NOVELA

 

 

O SEMPRE

 

 

 

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ALMAR GALVÃO GOMES DE MATOS

 

 

 

 

 

“ O ÚNICO SENTIDO

DAS COISAS,

É QUE NÃO

TÊM SENTIDO...”

 

(Mais ou menos Fernando Pessoa)

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RELATO DO REPOSITÓRIO PÚBLICO N° 538.315/AE-5 RECOPIADO DO ORIGINAL PRIMITIVO EM 831 PELO ESCREVENTE ESPECIAL 38754321 REFERENTE À ACONTECIMENTOS ANTIGOS.

 

                REFERÊNCIA LENDAS E MITOS DA HISTÓRIA DO PLANETA PARA ALUNOS DO CURSO ELEMENTAR DE FORMAÇÃO PRÉ-INFANTIL.

                OS ESTUDANTES DEVEM DEDICAR-SE A LEITURA DOS TEXTOS APENAS COMO UMA CURIOSIDADE ANTIGA NÃO HÁ NENHUM INDÍCIO SEGURO DE QUE OS FATOS NARRADOS SEJAM VERDADEIROS O ABSURDO FICCIONAL DE CIVILIZAÇÃO TÃO SEM SENTIDO NÃO DEVE SER LEVADO COMO UMA POSSIBILIDADE, PORÉM COMO UMA SIMPLES NARRATIVA CRIADA POR UM ESCRITOR DESCONHECIDO DE NOSSA HISTÓRIA.

                LEMBRAMOS AOS ALUNOS QUE NOSSA CIVILIZAÇÃO TEM PLENO CONHECIMENTO DE SUA ORIGEM, DESDE A IMIGRAÇÃO DE ETNUS ATÉ O FINAL DA EVOLUÇÃO TOTAL.

 

 

PLACA MATRIZ

 

 

5383315/AE-5

 

NÃO MANUSERAR SEM APARELHAGEM

NÃO PERMITIR CONTATO COM OBJETOS

DESMAGNETIZANTES

VEDADO O USO DE NÃO-ESTUDANTES DE HISTÓRIA DO

PLANETA

PROIBÍDA A REPRODUÇÃO, USO OU DISCUSSÃO DO

CONTEÚDO

FORA DO CENTRO DE APRENDIZAGEM

 

 

                RESPONSÁVEL: Escrevente oficial 38754321, organizador de refências sobre acontecimentos antigos.

 

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                (Fora do Sempre)

 

 

                Nada existe, só Maia.

                O mundo de cada um é o mundo de cada um.

                Os que se tornam UM vivem no agora.

                Se tens que me ouvir, não és o Avatar.

                Eu sou o Avatar.

                SEMPRE.

 

                Mesmo se não és o Avatar

                (e não és, ou não seria o leitor)

                podes ser um INICIADO

                Rei de seu mundo,

                dono da vida,

                Salvador do seu Mundo,

                O libertador.

 

                Mas EU sou o AVATAR.

 

                Cale-se.

 

                Ouça.

                         (Texto encontrado em pedaço de papel nas ruínas antigas)

 

                         oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

 

 

 

                                               (33...)

 

 

                Quatro horas. Um sol de inverno penetra pelas grades da cela. A friagem das pedras, e o frio da estação junto ao frio do corpo do condenado.

                A cela é pequena; um leito de palha, num banco ou móvel. Há correntes. Porém o prisioneiro não usa. Apenas as paredes de pedra grande, ligadas com argamassa, a porta pequena de madeira inteiriça, o leito de palhas, o condenado e a minúscula janela, que, de tãopequena não necessita de grades - seria impossível um ser humano passar por ali de tão estreita.

                O homem está vestido com uma espécie de manto marron, largo, tecido de fibras vegetais grossas, àsperas. Na cabeça, uma tonsura irregular e os cabelos que sobram vastos e compridos. São louros e escorridos. Olhos escuros, rosto oval, testa larga, sombrancelhas cerradas, rosto liso, sem barba nem bigode.

                Seu nome: Jeutfepu Csapu. Profissão: Um monge-tenente até a pouco estudante de leis e história religiosa, aperfeiçoando-se para seu futuro progresso social. Defendera, ha pouco tempo, a tese que o encarcerara: “Miséria e felicidade, mitos e razão”, encerrando assim os seus estudos finais da classe intermediária-final dos sacerdotes-militares do escalão imediato à classe superior.

                Soubera que seu trabalho resultaria nisso. E assim mesmo o enviara aos escritos de publicação. De acordo com as normas vigentes, eles, do escritório, não poderiam negar a  publicação da tese nem evita qe o povo a lesse, o que realmente aconteceu. E isso fatalmente o levaria ao cadafalso: seria necessario mostrar ao povo que lera os escritos hereges, não somente a punição de tal, mas ainda a inutilidade de idéias tão abstratas, que solicitavam exatamente a volta ao mito e a miséria, para que houvesse outra vez infelizes e felizes, pobres e ricos, crentes e descrentes.

                Jeutfepu sabia de tudo isso. Mas, como aquele que vê a luz. Não suportaria mais viver naquele estado de coisas: preferiu desemprenhar seu papel  e encarar a morte com segurança. Aliás, a morte não era mais, ha muito tempo, considerada como um castigo todos conheciam, comprovadamente, o fato da continuidade energética. A própria perda da individualidade não era tão indesejada como fora o próprio enigma do fim para o corpo físico, séculos atrás.

                Até hoje, quem quisesse, poderia receber, onde estivesse, as palavras do Augusto, mesmo passados tantos séculos; ela se mantivera na memória da natureza, imortal, não mais imortal alma humana, mas imortal energia cósmica, real, verdadeira. Todos sabem que não mais existia espaço-temporal o Augusto, mas sabiam que Sua Energia existia todo o sempre, e se regozijavam disso. Todos eram nem felizes nem infelizes, apenas eram sempre.

                Não havia pobres, nem ricos. A vida, ali, em plena floresta secular. Não tinha sentido em termos de riqueza física, nem de riqueza alguma. A humanidade, ou o que sobrara dela, havia alcançado suavemente, o estado de comunitarismo total, aspirado por idealistas ha mais de quinze séculos, a acreditar-se nos relatos orais dos velhos sábios. O sentido de propriedade, fora totalmente abandonado, o desejo da posse extirpado dos corações humanos, nem mesmo a posse sexual possuía mais sentido. As pessoas não se desejavam, apenas copulavam, em épocas prescritas pelos sacerdotes, conforme a necessidade da revitalização social. Assim, o crescimento social era controlado, sem explosões demográficas, nem degenerações sociais.

                Jeutfepu sabia de tudo isso. A emoção ha muito fora abolida da sociedade. Emoção e pecado andavam juntos. Quando alguém se emocionava, por motivo que fosse, sentia-se, em geral, vitima de um grande sentimento de culpa, penitenciava-se, produzindo mais, ou flagelando-se para, através da dor física, tornar-se outra vez um normal, nada se apiedava, ao estalar o chicote no lombo de Jeutfepu, como se estivesse apenas conversando com ele, normalmente, num dia qualquer.

                Duas horas depois, seria o flagelo definitivo. Seu corpo físico teria um fim. A e xistência terrena para ele, estaria terminada. Como o suplício do fogo, de acordo com as normas do Livro,sua energia seria recuperada, inteiramente e ele sobreviveria no cosmos como energia pura, imaculada, que sempre fora. E isso, apesar de tudo, assusta-o sobremodo. Agora, temia a dor física, que era involuntária, absurdamente, emocionava-se as lágrimas, ao pensar nas chamas devorando sua carne, lembrando-se da dor que sentira ao queimar seu braço jovem em uma das muitas lacerações que fizera a si próprio, nas muitas vezes que pecara.

                Jeutfepu fora sempre um pecador. Sua capacidade absurda de emocionar-se constantemente o atemorizava: era sem lógica nenhuma o que sentia, pela manhã no dormitório de homens muitas vezes, uma coisa muito estranha o dominava ao avistar um pássarocantando pousado num galho em frente a janela. Emocionava-se, sua pessoa via-se num mundo de sonhos inquietos e culposo, ao mesmo tempo era uma série de sentimentos incontrolados, inquietantes. Em geral, quando isso acontecia, acordava de todo, vestia-se rapidamente calçava as sandálias de couro cru e saia pelo bosque, olhando as árvores e a relva, cobertas de orvalho da manhã. Era pior o canto das aves, o viço dos vegetais, tudo o levava, dentro daquela luz da manhã fria a um paroxismo de sentimentos descontrolados e pecaminosos. Era um marginal, sabia-o. E, conscientemente, nada conseguia fazer para evitá-lo. Seu inconsciente traia-o, muitas vezes. Porém tinha medo de confessar-se ao sacerdote-capitão, um velho de longas barbas e túnica longa vermelha, que o enviaria a um centro de recuperação e condicionamento social. Como estudante de grau elevado, sabia que se não o conseguissem condicionar devidamente, seria exilado junto aos selvagens, aos regredidos, no seio da floresta. Já os vira, em caçadas que fizera, na juventude primeira: seres brutos, nus, em andrajos, arrancados de animais selvagens, em grupos fedorentos(mais uma vez a emoção, embora negativa, o atacara: enquanto seus amigos os abatiam sem nenhhum sentimento de alegria ou raiva, ele ora penalizava-se, ora enjoava-se deles. Depois, a autoflagelação solitária, escondido dos outros, ou auxiliado por seu fiel amigo Nesvopu(quase acreditava que o amigo sofria do mesmo mal, a emotividade, e o sentimento).

                Jeutfepu não queria ser condicionado: desejava sozinho, vencer seus repugnantes sentimentos. E os sacerdotes-instrutores, ao saberem de seu auto-flagelamento, esporadicamente, acreditavam serem apenas exercícios bélicos, muito comuns nos jovens guerreiros que se candidatavam ao sacerdócio, para, mais tarde, enfrentarem a carreira política. Ninguém suspeitara dele, jamais. Assim, pudera interessar-se pela história de Homiu, pesquisando os arquivos semi-secretos, ouvindo os patriarcas, os anciões, forçando suas memórias, tentando ligar os fios que se perdiam, às vezes sem sentido aparente.

 

                Estudara, como ninguém o fizera, a História do Augusto, o martírio, a pregação de Umnus, a escritura do livro, a implantação do novo tipo de vida. Os sacerdotes-instrutores, ao vê-lo imerso em suas pesquisas, prenunciavam nele um grande sacerdote-militar-político, talvez um membro do controle, em tempos que viriam. E incentivavam-no a continuar, forneciam-lhe dados, concediam-lhe tempo os exercícios militares, as longas preces de auto-vigor, pois desejavam que ele seguisse seu aparente caminho.

                Mas ele encontrara textos antigos, falando de um ser estranho, um dentre muitos “enviados divinos” das antigas religiões. Era um avatar diferente, pois ele mesmo escrevera suas lições, em muitos livros, mas Jeutfepu só encontrara fragmentos deles, o que era muita sorte, tanto tempo depois.

                Com ele aprendera que a fonte de tudo que existia era Coisa Alguma(que o escritor chama Nihil) fonte profunda de cada ser, fora do tempo, do espaço, não matéria, que por isso criava o primeiro ser, o Ser Uno Tetradimensional, o único ser da quarta dimensão. Esse ser único real, pada existir, diversificava-se em todos os seres tridimensionais necessários a existência material, e através desses seres existia. Ele Jeutfepu, então, era apenas uma personalidade criada pelo SUT para que o SUT, o criador, pudesse viver através dele.

                A vida, então, passara a ter sentido: ele Jeutfepu, era o SUT vivo, no mundo objetivo.Passara a ter sentido a  expressão que lera em outros livros antigos “a glória de Deus”...

                Entretanto sabia que não poderia contar isso aos de seu tempo. Mas poderia ensinar alguma coisa. E colocaria isso em seu trabalho.

                Percebera que os textos sobre o Avatar tinham sido escritos quase que imediatamente antes da grande catástrofe, por isso tiveram pouca ou nenhuma divulgação. O Avatar não tivera nenhum nenhum Augusto e nenhum Saulo para eternizá-lo e por isso seus conhecimentos tinham desaparecido. Então, competia a ele continuar a divulgação os ensinamentos como pudesse.

                Aprendeu que, o tempo não existindo, ninguém poderia ter uma personalidade unitária, mas fragmentadas em inúmeros eus, que se estruturavam em centros básicos previsíveis, que controlavam instintos, condicionamentos, energia, formação do exterior, e corpo. Havia, também centros mais complexos, como o centro da criatividade e do sentinmento, além do centro controlador de todo o sistema, que as antigas religiões tinham personalizado então, erroneamente como avatares, enviados, messias, budas, cristos, órus, mitras, etc. Esse centro interior centralizador, era deflagrado quando o ser humano se unificasse.

                Então - mais mágica - ele deixara de ser apenas Jeutfepu e sabia-se esse EuProfundo, e que por isso, controlava todo seu Universo Paralelo. E então, encontrou, um dia, em uma de suas meditações a respeito disso tudo o SUT!

                Não apenas o encontrara, mas ERA o SUT!

                Naquele momento, ele passara a ser todos os seres, era o Paramesdenth, era seu amigo, os outros homens, os animais, as florestas, o próprio mundo, as estrelas, as galáxias, tudo! E soube-se Nihil. Ultrapassara mesmo o Absoluto e se tornara a fonte.

                Uma imensa vontade de lá ficar tomou conta dele. Uma paz inexprimível apossou-se. Já não era mais apenas tudo, mas o nada tudo. Eterno, integral, pura inteligência, puro poder!

                Mas uma voz em si mesmo, nele Jeutfepu-SUT-Nihil-Mundo lhe disse a si mesmo: “Tens de voltar, a programação objetiva ainda não acabou. Há mais o que fazer”.

                Viu-se, súbito, sentado nas ruínas, com velhos alfarrábios nas mãos. Olhou ao redor silêncio e solidão. Olhou seu corpo o mesmo corpo de sempre o hábito de estudante, a vida continuava, parecia que fora um sonho, apenas isso!

                Então, tentou por em prática o sonho. De manhã, ainda ao chegar às ruínas, ferira-se levemente no pulso. Sangrara um pouco, mas o sangue coagulara, a ferida ainda aberta.

                Se fosse verdade que controlava seu Universo Paralelo, se simplesmente desejasse que sua ferida cicatrizasse isso aconteceria. Então, colocou toda sua vontade, todo seu ser, nisso, mas sem tensão e sem força, apenas assumiu que o ferimento cicatrizaria, rapidamente.

                E, sob seus olhos, lentamente, viu o ferimento começar a cicratizar. Quando retornou a cidade, não havia ferida alguma.

                Então, era verdade!

                Ele era Nihil vivendo no mundo objetivo! Era poder vivo, vida plena!

 

                Assim, começou os treinamentos de unificação e - subitamente - sabia-se UM. Neste momento, entendeu que havia a Escala, que regia todos os seres e acontecimentos. A escala é a sequência programacional de, no mínimo quatro pontos de força, que se desdobravam em sete notas, o roteiro de cada processo ou ser. Tudo era regido pela escala. Mas como a escala possuia duas interferências, uma no meio e outra no fim, todos os processos e seres eram desviados em seu , fazendo da vida uma loucura sem sentido(sua sociedade, entretanto, porque altamente condicionada, seguia um mesmo rumo, porque os condicionamentos o mantinham!).

                Estudando os textos do Avatar, aprendeu a controlar a controlar suas escalas. Aprendeu que podia controlar suas escalas particulares, mas não as do Universo Coletivo ou seja, o que os outros faziam e que os outros organizavam em sua sociedade, inclusive a sua. Seria poder sobre si, mas apenas isso, poder sobre si e sobre o que lhe acontecesse.

                Depois, continuando a estudar fragmentos, aprendera que, se ele era o Criador vivo no mundo objetivo, teria o poder de transformá-lo como precisasse. Era mágico!

                Mas entendeu que apenas fazia as transformações necessárias, nunca por capricho ou desejo da personalidade. Somente suas qualidades de demiurgo tinham sentido e ele aprendera que raras vezes era, mesmo necessário usá-las. O mundo estava muito bem como era, e ele não precisaria mudar muito.

                 Mesmo a sociedade onde vivia não precisaria de grandes transformações e não seria ele que iria propor grandes mudanças.

                O máximo que proporia seria o conhecimento, a Verdade, que sua sociedade desconhecia. ISSO ele tentaria. O máximo que poderia acontecer, supunha, seria ser ignorado ou mesmo ridicularizado.

 

                Não fora surtpresa para ninguém quando concluira a volumosa tese de encerramento da preparação estudantil. A surpresa viera quando os membros do escritório de publicações, casualmente(pois em geral nele não se interessavam pelas teses dos estudantes), leram os escritos. E embora não pudessem negar sua publicação, imediatamente levaram-no ao Controle.

                O resto, fora simples, o povo assustara-se com as idéias. Muitos temeram suas energias, outros amaldiçoaram, talvez pela única vez de suas vidas com emoções descontroladas, o herege maldito que lhes vinha infernizar as vidas plácidas; uns poucos passaram a pensar em tudo aquilo, silenciosamente, propensos a concordar com as idéias de Jeutfepu.

                O controle sabia disso tudo. E fez o que devia. Jeutfepu foi julgado torturado e condenado a morrer na fogueira, em praça pública, para que todos vissem seu exemplo, e participassem da sua Purificação Final. O processo fora amplamente discutido publicamente, nos moldes do processo fora amplamente discutido publicamente, nos moldes do Tribunal Controlador. O próprio Paramareshdent em pessoa, dirigira as sessões. O corpo Maior de Sacerdotes-Generais-Ministros, em seus mantos lilazes, interrogaram o acusado, procurando mostrar publicamente seus pecados.

                E Jeutfepu chorara, emocionara-se, o tempo todo. Os ministros tinham conseguido seu intento: o povo todo assistira o acusado pecar emocionando-se, muitas vezes, em sua frente. Ninguém iria acusar o Controle de injusstiça. Todos viram os Ministros torturarem o acusado tentando purificá-lo, mas verificaram que de nada adiantaria: quanto maior a tortura, maior fora a Emoção, o pranto, as lágrimas. O povo assistira impassível como devia, e concordava, racionalmente, que o acusado era pecador e deveria ser levado a sua Salvação, à purificação Final, pela destruição de seu corpo  físico pelas chamas.

                E aí estava Jeutfepu, solitário, em sua cela, esperando. Duas horas mais, e tudo estaria acabado. Seu corpo queimado, a dor, o sofrimento, o horror da morte pública, olhando os milhares de rostos inexpressivos, fitando-o, sem pena nem raiva, apenas concordando com sua purificação, aguardando que sua energia se  integrasse com o todo, para o bem dos indivíduos. E sentia muito medo.

                 Jeutfepu, agachada a um canto, escondeu o rosto com as mãos. O tempo passava lentamente, o frio fazioa-o tirintar num absurdo constraste com o calor que sentiria em breve, na fogueira. Tinha muito medo.

                A hora se aproximava. O sol descia no horizonte por detrás das grandes árvores da floresta. As sombras das grandes construções de pedra, cobriam as construções menores. Jeutfepu ouviu a porta abrir-se. Um soldado-acótico entrou empunhando uma arma. Jeutfepu levantou-se lentamente. Sua mente, agora dominava seu corpo. Sabia que sofreria muito. E que morreria por nada. Mas estava pronto.

                Levantou o corpo, ergueu a cabeça orgulhosamente. Olhou a escolta nos olhos, desafiadoramente e disse, apenas:

                - Vamos.

 

 

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                = 9 =

 

                               (19.....)

 

 

 

 

                Niguém esperava por aquilo. Afinal de contas era um casal perfeito. Ambos desportistas quase fanáticos, ambos instruídos, qualquer um diria que era um par perfeito.

                - Papai, vou me separar de Viviana.

                O velho num choque. O filho num momento se transformara num estranho(não era de quebrar um compromisso) não admitia isso.

                - Cansei, pai.

                - Você ao menos podia manter as aparências por um certo tempo, tentar acalmar as coisas, afinal vocês...

                - Não ha jeito, papai. Eu tenho outra.

                O velho levou um susto maior. Outra! Seu filho! Estaria maluco, ele ou o rapaz?

                - Nídia já está comigo, não há jeito - repetia Augusto.

                - Você não sabe o que está fazendo...

                - Sei, e não tenho medo. Sou homem, sabia?

                - Não permito de jeito nenhum.

                O velho ergueu-se, colérico.

                - Você tem que manter sua palavra, não pode...

                Augusto, num repente, levanta-se e sai do bar.

                De outras mesas, alguns frequentadores olham, curiosos. O garçon se aproxima, solicito e policial:

                - O senhor precisa de alguma coisa?

                O velho senta-se, lentamente. Olha a xícara de café frio, a mancha na toalha limpa da leiteria Gibi. Em frente passa um bonde barulhento, verde, cheio de gente pendurada nos estribos. Hora do retorno, da fábrica, da loja. O condutor, empoleirado no estribo, “faz favoiro” - e registra a quantia no relógio de marcação.

                O velho fica, muito tempo, olhando os bondes passarem. Bondes, gente. Outra ez sozinho. Desta vez o filho...

                O garçon passa por perto, chama-o:

                - Mais uma média, por favor.

                O homem sai, parecia que estava resmungando qualquer coisa. O velho sabe que esteve ocupando inutilmente a mesa, a hora era de muito movimento, há pessoas esperando o lugar.

                - Não te preocupes, meu filho, dou-te uma gorjeta, depois, deixe estar! - diz para o garçon.

                Os bondes passam cada vez mais vazios. Já é noite, o café tem poucos frequentadores.

                O tempo passa e o velho, sentado, tomando médias claras com torradas de petrópolis. Horas ali, os bondes passando, barulhentos, já vazios, o condutor la na frente conversando com o motorneiro, ou sentado num dos bancos cochilando.

                - Vamos fechar, senhor.

                O velho olha o garçon, como se não entendesse bem.

                - Já é tarde...

                - Está certo, quanto devo?

                O garçon deposta o pires de metal com um papelzinho, o velho nem olha, põe uma nota de cem mil réis no prato. O graçon ao vê-lo levantar-se - a gorjeta polpuda, como o velho prometera - faz mesuras e agradecimentos.

                - Volte sempre, doutor, estamos às ordens - e afasta a cadeira para o velho sair.

                Na rua passos lentos, as lojas fechadas. Uma longa caminhada até o primeiro hotel que lhe parece decente. Não volta mais para casa de seu filho. Não ha mais sentido. Talvez não haja mais ninguém por lá depois mandaria o boy do hotel buscar o de mais necessidade.

 

                Finalmente, decide-se por um hotelzinho de aparência asseada na Glória. Entra, toma um quarto. Sobre.

                Deposita a infalível gorjeta ao rapaz. Deita-se na cama, ainda vestido. Pensa, pensa muito.

                Está velho, cinquenta e oito anos, parecia ter muito mais. Vinte anos de casamento fracassado, a descoberta da traição, depois a morte da mulher. Fora arrumar seus pertences, depois do enterro e encontrara as dezenas de cartas de amor, de diversos amantes. E pensar que lhe fizera um belo poema, em seu túmulo, chorando...

                Nem pensara duas vezes, apanhara as alianças, as duas, procurara o primeiro joalheiro, vendera-as por qualquer preço, e queimara o dinheiro bebendo, bebendo, até ficar num porre histórico. Fora sua vingança, pequenina, saborosa.

                Depois criar o filho, ainda pequeno, único sobrevivente de uma série de gestações interrompidas, nati-mortos - parecia que ela possuia defeito genital, que médico nenhum descobrira. Augusto, finalmente, vingara. Fora um menino forte, sem maiores problemas. Mal a mulher morrera, dedicara-se a criação do menino, então com oito anos.

                Anos de trabalho, como guarda livros de uma fazenda, no interior de São Paulo, depois a revolução de 32, a fuga pelos campos, as mortes presenciadas, a vinda para o Rio. Trabalhara em alguma coisa. Augusto já rapazinho, resolveram fundar um curso de qualquer coisa.

                Dinheiro, nenhum. Às vezes dormiam nos próprios bancos de estudo, na pequena salinha da Rua Uruguaiana, almoçando média-pão-com-manteiga, jantar de brisa. Tempos de penúria, mas estavam juntos, os dois lutanndo por alguma coisa que eles nem mesmo sabiam o que era.

                Depois, o curso cresce. Fundam uma filial no largo de São Francisco, andar inteiro, criam cursos pioneiros, a primeira turma de artigo 100, alunos prestando prova no colégio Pedro II, bancas rigorosíssimas

                A nova filial da rua Ouvidor. O sucesso.

                Depois, acompanhando o jovem Augusto esportista, nadador, ginete, escursionista. Os primeiros namoros confidenciados ao pai-amigo-irmão, o casamento com Viviana.

                O velho fora morar com eles, naquilo que lhe parecia um lar perfeito: os dois nadavam juntos, cavalgavam, partiam em excursões, pareciam inteiramente felizes. Augusto concluira o curso de advocacia, ja possuia clientes, fizera o CEPEOR, era oficial da reserva. Os cursos prosperavam, tinha certas reservas de dinehiro, o mundo era cor-de-rosa.

                De repente, a catástrofe. Augusto, seu querido Augusto. Parecendo-lhe parecendo um desses cafajestes medíocres de porta-de-rede-vous. Abandonando Viviana e partindo com uma sujeitinha qualquer, logo a secretária do curso! Era inconcebível. Afastar-se-ía do filho. Sim, era isso, voltar a vida solitária, um quarto de hotel, lhe bastaria para a velhice, com suas frustrações e desassossegos.

                Levantou-se, foi até à janela. Lá em baixo, os bondes, passando barulhentos em frente ao relógio antigo. Sem que o esperasse, a dor súbita no peito, forte, como se estivesse com um objeto pontudo enfiado no coração. Sente as forças diminuindo.

                “É o coração”, pensa. Mal consgue tocar a companhia sobre o criado-mudo, antes de cair estatelado no tapete puído.

 

                 oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

 

                = 21 =

 

                                               (33......)

                O Pamareshdent levantou-se, empunhando a espada cerimonial de punho vermelho. Seu manto branco ondulou-se ao vento da tarde fria. Um último raio de sol refletiu-se em seu capacete dourado e de plumas vermelhas. A faixa de chefe político, de seda verde, simbolo do poder supremo da nação, brilhava ainda. Seu rosto sem expressão, porém duro e rígido, virou-se para o tronco, onde estava amarrado o acusado. Fez com a espada um pequeno sinal. O carrasco, que espera apenas por isso, desceu o archote e ateou fogo à pilha de lenha que cercava o posto. As chamas, ateavam-se lentamente, na madeira ainda verde, recem-tirada da floresta abundante.

                Em torno, a multidão olhava, silênciosa. Como previra Jeutfepu Csapu, não havia nenhuma piedade ou ódio em seus rostos. Apenas olhavam a cena com interesse, mas sem emoções. Os ministros, enfileirados, sentados ao lado do Pareshdent, no palanque por trás da pira incendiada. O corpo de Sacerdotes-Políticos em formação militar, com suas armas reluzentes, enfileirava-se  logo à frente da fogueira, a uma distância prudente. A seguir, o corpo de estudantes também formado, devidamente armado, em posição marcial. Depois os do corpo de fabricantes e fornecedores, muito bem vestidos, em seus mantos de precioso tecido: Ultimas filas, os corpos de operários e o corpo de lavradores, todos bem trajados, de acordo com suas profissões. Entre todos os corpos, viam-se mulheres e crianças acima de oito anos, sem nenhuma distinção de lugar ou manto diferente dos homens. Todos posicionados devidamente, por corpo, disciplinadamente, no mais completo silêncio.

                - Leia a ordem, Escrivão do Controle! - Disse o Pamareshdent.

                Um dos Ministros levantou-se, gordo, enorme, as faces cor de rosa. Abriu um papel-de-fibra, muito branco, e leu:

                - Este tribunal condenou o réu Jeutfepu Csapu, antes Sacerdote-Militar Candidato ao Corpo Político, após ao julgamento das Normas e Regras constantes do Livro, após as torturas preliminares da purificação, Regras constantes do Livro, após as torturas preliminares de purificação, à Purificação Final através do Suplício Pelo Fogo Sagrado, para que seu corpo físico seja distruído e com ele o pecado que tomou posse dele e sua Energia se espalhe pelo Universo, para que todo o Povo possa usufruir novamente de seus benefícios.

                O fogo aumentava. A fumaça começava a encobrir o supliciado, separando-o do palanque onde o Ministro continuava sua leitura.

                - Assim, neste dia sagrado de Augusto, quinquagésimo primeiro dia do sexto mês, ano de 1231, seja levado à Praça Central da Cidade de Umnus, preso ao poste de purificação e queimado até que seu físico se transforme em cinzas, de modo que sua Energia se espalhe Universo. Glória ao Augusto.

                O ministro sentou-se, arquejante. No centro da praça, o fogo atingira seu auge, num estalar de madeira ainda verde. Jeutfepu sentia-se sufocar, faltava-lhe a respiração. Seu corpo retorcia-se automaticamente, tentando livrar-se das cordas que o prendiam ao tronco. Não conseguia gritar, pois estava amordaçado. Emitia roucos sons, que ninguém ouvia, por causa do crepitar das chamas, que lhe prrincipiavam a queimar a pele. Sua mente começava a nublar-se, seus olhos irritados pela fumaça. Numa ultima virada percebe a multidão, quieta, apática à sua frente. Na segunda fileira do Corpo de Sacerdotes-Militares, num relance, vê a figura de seu amigo Nesvopu Ravisu, ereto como os outros. Os brilhos das chamas iluminara seu imponente uniforme. Enquanto a dor dominava todo seu corpo a inconsciência final invadia lentamente sua mente. Pareceu um brilho diferente nos  olhos de seu amigo Nesvopu. Teria sido uma lágrima?...

 

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                                                                                                                                                                            (19....)

 

 

ficar até tarde da noite debruçado na papelada, enquanto a mãe dormia indiferente.

 

                - O besta toca este negócio, como é mesmo o nome?

                - Violino. De vez enquando ele me enche a paciência tocando esta porcaria. Qualquer dia jogo fora, cê vai ver. Mas esquece isso, vem me dá um beijo...

                O menino, curiosíssimo, levanta-se e vai, pé ante pé, abrir devagarinho a porta do quarto. E vê um homem desconhecido, botas sujas de barro vermelho, calça de riscado, um cinto largo cheio de cartuchos uma arma enorme pendurada. Da camisa aberta ao peito, pelos pretos lhe parecem uma coisa horrível, causanvam-lhe um nojo esquisito, principalmente quando aquele homenzarrão deu um repelão em sua mãe e encostou a boca suja e cheia de pelos, nos lábios da mulher. Sem saber como, não se conteve e deixou escapar:

 

                - Que é que você está fazendo acordado?

                O homem volta as costas, entediado:

                - E essa agora! Ve se te livra dessa droga.

                - Volta prá cama, menino! Cê devia estar dormindo!

                O menino, sem nova ordem, volta-se correndo, bate a porta.

                - Será que essa porcariazinha vai contar pro palhaço que me viu contigo, mulher?

                - Não vai, não, eu sei como lidar com ele. Pode deixar. Vem, me beija, garanto que ele não sai mais do quarto.

                - Não, chega. Agora é do meu jeito.

                O homem, bruscamente, toma no colo a mulher e a leva para o outro quarto.

                O menino, na cama, ouvira tudo.

                Não, não contaria ao pai. Sabia, intuitivamente, que ele sofreria, se soubesse. Não seria ele que causaria o sofremento do pai. Além do mais, não entendia bem essas coisas de gente grande. Vai ver que até não havia nada de mais, pode ser um parente da mãe, qualquer coisa assim. Mas no fundo, ele sabia que estava errado: o pai trabalhando, toda noite e a mãe com aquele homem, beijinho na boca!

                Não, nunca contaria a seu pai, mesmo quando ele estivesse muito velinho. Seria um segredo só seu. De mais ninguém. O sono foi aumentando, e o menino dormiu, ainda ouvindo, bem longe, uns ruídos esquisitos, parecendo gemidos. A noite ficou depois silenciosa.

 

 

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                                                                                                                             (33....)

 

                As chamas envolveram completamente o condenado, escondendo-o.  Cresceram, tremularam e começarama morrer, lentamente. No porte, uma massa negra e informe pendia, enroscada, ainda um pouco presa ao tronco.

                O pamaredrshdente olhou, mais uma vez a cena. Ao seu lado, um volume negro, o Livro; sob ele, um pequeno opúsculo, de capa branca e tese de Jeutfepu. Pensativamente, pensativamente o sacerdote abre o pequeno livro , lê a primeira página. Pára a leitura, medita.

                O fogo se apagara quase de todo, restando apenas fumaça e brasa. O povo retirava-se devagar, sem comentários. Os Corpos de Sacerdotes-Militares e de Estudantes, faziam um retinir de metais e sedas ao caminhar, rumo aos seus destinos. Os mitos iam saindo lentamente, conversando coisas indiferentes à execução. Para eles o ato não passava de mera rotina, desisteressante e sem muito sentido. Não sentiam aquela coisa estranha que seus antepassados de há quinze séculos chamava o “horror da morte”. A morte para eles era um mero acontecimento. Todos sabiam que continuariam a existir, como energia, assim como o condenado, e não viam motivo para pena ou raiva, era apenas um fato consumado, nem sequer representava para eles um castigo, apenas um ato de purificação, mais nada.

                O Pamareshdent deixou-se ficar, fitando o horizonte, pensativo. Era um homem, não de idéias, mas de pensamentos. Seus raciocínios lógicos, frios, metódicos, sem grandes dificuldades. Originário do Corpo dos Lavradores, desinteressa-se logo pelo cultivo da terra e como demonstrara grandes potencialidades intelectuais, fora passando de Corpo a Corpo, até ser eleito , por seus conhecimentos e dotes, o pamareshdente, senhor supremo e absoluto do Controle de Umnius, o grande país setrentional, o único existente abaixo equador, no antigamente chamado continente americano, ha dezenas de séculos. Era também protegido pelo chefe religioso, guardião da Ordem de Augusto, mantenedor da tradição, das regras e normas religiosas, e chefe dos exércitos e milícias da nação. Era um posto cansativo, que o transformara.

                Percebia que estava só, muitíssimo só. Temia, algumas vezes “sentia” essa solidão, ao invés de racionalizá-la, como seria o esperado, mas, sempre, de imediato, afastava tudo isso de si e mostrava, como sempre, interior e exteriormente, frio e pensante.

através dos séculos, desde a escritura inicial do primeiro Discriminador, até há pouco tempo, na ultima ordem de revisão, que estabelecera definitivamente a tradição, normas e regras.

                Um pensamento aterrador passa por sua mente:

                “ E se Jeutfepu tivesse razão...”

                Sua mente inquiridora e fria, acostumara-se a raciocinar com a mais perfeita lógica, desde que se tornara um sacerdote. E o seu raciocínio o impedia de julgarr com extrema severidade a heresia de jeufpu. Afinal, tivera que cumprir as Normas e Regras, ao pé da letra, com frieza e raciocínio. Necessitava manter Umnius como era. Sem problemas ou crises. E assim o seria. Abriu, novamente o opúsculo de Jeutfepu. A luz trêmula iluminava a página branca do papel de fibra.

 

 

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                                                                                                                                                             ( 19...)

 

                QUERIDO DIÁRIO: hoje vou me encontrar com meu diretor. Marcamos um encontro ontem, em casa de Marinho. A festa estava muito chata, sem graça, o Beto com aquele papo besta pra cima de mim, esse negócio de conselho prá seus namoros, eu conheço bem... Conversa só. Ele já ia embora, a gente nem conversou, mas tudo deu certo. Dançamos sozinhos, a sala deserta, todo mundo tinha ido embora, foi formidável. Ele é um amor. Muito inteligente, um tipo estranho, diferente, que atrai sem chegar a ser um homem bonito. Eu gosto do tipo dele. Cá para nós, meu diário, sempre gostei, desde o primeiro dia de trabalho.

                Ele é casado, meu diário. Eu já sabia. Mas a mulher dele é uma chata, uma idiota e o coitado está muito infeliz. Às vezes me parece muito melancólico, outras vezes muito desesperado, mesmo.

                Acredito que houve sinceridade de parte à parte. Ele disse o que queria, e eu também. Falou que apesar dos problemas, de ter deixado de amar a mulher, nunca deixaria seu lar po outra mulher, pois assumiu com ela um compromisso. Tenho certeza que é verdade.

                Não faz mal, eu o aceito assim mesmo. Não me importo de ser a segunda. Já tentei o amor com homens livres, eles até hoje não conseguiram reter-me, ou eu não consegui retê-los. Bem, tem o português. O bolha casa comigo de qualquer jeito. Se o negócio fosse apenas o casamento tudo estava arrumado. Casava, conhecia a Europa(o patrício é podre de rico, botequins em cadeia, veja só) e iria viver a toda. Mas não dá pé. Diário, acho que eu já te disse, não deixo ele nem me beijar(o português), sei lá, tenho até nojo. Nem beber do mesmo copo dele consigo. Já tentei, outro dia, numa boate. Acho que por todo o dinheiro do mundo não vale apena casar assim. Prefiro meu diretorzinho, jovem, casado, lutando para deixar de ser pobre e tudo. Prefiro correr os riscos, desde que haja amor de parte à parte. Aliás eu já disse tudo isso a ele ontem.

                Acho, meu diário, que nosso caso vai render. Não sei bem, talvez seja a tal intuição feminina, mas acho que vamos ter muito tempo para vivermos juntos. Deus queira que eu esteja certa. O negócio é ir em frente, seja o que ele quiser.

 

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                                                                                                                                             (33....)

 

 

 

 

“Miséria e Felicidade, Mitos e Razão

 

Tese de Encerramento - Jeutfepu Csapu

Impresso e Distribuído Pelos Escritórios de

Publicação

 

                Há quinze séculos atrás foi supliciado o Augusto. Cerca de trinta anos depois de sua transformação em Energia, um policial desconhecido recebeu as vibrações da Energia do Augusto e sofreu sua transformação. Encontrou-se, quase casualmente, com um de seus discípulos e tomou conhecimento da existência magnífica de Augusto, o Enviado do supremo. E abandonou sua carreira naquele mundo em deteriorização e resolveu ser um dos Disseminadores, pregando pelo Universo a Verdade do Augusto. Escrevera a primeira parte do Livro, que hoje todos podem conhecer e conhecem, a base da nossa Doutrina. Isto tudo está no Livro, como todos sabem. Omais remoto Lavrador de Umnius, sabe de tudo isso.

                Nosso povo, sem crise ou problemas, vive há séculos sem riqueza ou pobreza(é preciso explicar o significado do termo, hoje desconhecido: pobreza significa a falta de propriedades particulares, além da impossibilidade de conseguir com facilidade maior para manter sua sobrevivência. Propriedade é o direito de ter apenas para si um objeto, uma área de terra, uma morada, qualquer coisa, inclusive pessoas. Tais conceitos eram comuns há quinze séculos, durante o tempo de Augusto conceitos eram comuns há quinze séculos, durante o tempo de Augusto. Riqueza, entretanto, era exatamente o contrário; a posse de grande quantidade de bens inclusive o que se chamava dinheiro, um ser que utilizado em troca desses bens que passavam, no caso, a ser propriedade de quem tivesse e por ele trocasse “dinheiro”).

                Antes do Augusto a Humanidade, que se contava a bilhões de pessoas, se espalhava por todos os continentes. As pessoas adoravam deuses diferentes, alguns personificados,  e os mantinham como apoio pessoal. A busca de felicidade era o motivo de suas vidas. Uma das fracções era composta de “católicos”, que vez por outra, imersos em seus problemas físicos ou materiais, elevavam preces aos seus “santos”, seres que, em sua existência havia sido virtuosos, na esperança de que eles os ouvissem e os ajudassem.

                Havia outros grupos diferentes, entretanto: os mulçumanos, cultuavam Maomé, os budistas a Buda, os hindus a Shiva e Vishnu, os africanos e alguns americanos a divindades estranhas como Oxalá, Ogum, etc. Em todos os grupos se acreditava que essas entidades os protegiam ou os castigavam, na medida que os agradassem, fossem virtuosos ou maus. A recompensa esperada era uma “vida após a morte”, num lugar maravilhoso e bom, ao contrário da desgraça eterna num outro lugar diferente, tal como pecadores, pagariam seus pecados no fogo que seria eterno ( os conceitos de maravilhas, desgraça, virtude, embora atualmente desconhecidos, podem ser facilmente identificados por todos, por sua natural significação no texto, assim como fizemos ao pesquisar os arquivos do Controle, e as Ruínas do Planalto).

                A diferença mais importante de nossos antepassados era o que eles chamavam de “felicidade”. Mesmo os possuidores de bens materiais e possibilidades ilimitadas de manutenção e sobrevivência viviam temerosos pela perda de seus bens, e como tal, buscavam também a fórmula de tal “felicidade”.

                Entre eles, havia o “amor”, sentimento estranho que muitas vezes nada mais era do que posse(isto é, ter para si, com total exclusividade) de pessoas, coisas, animais, sentimentos(nesse tempo a idéia de pecado era exatamente o contrário da nossa atual, isto é, pecaminoso era aquele desprovido de sentimentos e emoções, por mais absurdo que isso hoje possa parecer).

                Entretanto a definição de “Amor” não era essa; paradoxalmente acreditavam eles que “amar” era entregar-se inteiramente à posse de outra pessoa, ou ser qualquer, e através dessa entrega sentir-se “feliz”, pela semples entrega. Entretanto eram bem poucos os que se entregavam. Em geral traduziam o sentimento em posse, o extremo da situação(é deveras difícil explicar, atualmente essas relações de entregar-se ou possuir alguém ou alguma coisa. Mas é necessário que o leitor faça um esforço racional para entender esses conceitos arcaicos pois ele realmente existiram um dia).

                Estudamos, durante algum tempo os arquivos de Controle. Fizemos algumas expedições às Ruínas do Planalto, decifrando os livros encontrados nas velhas bibliotecas, carcomidos pelos ratos e cupins. A maioria deles nada servia; porém alguns ainda eram legíveis, depois de tantos séculos. O clima seco do Planalto deve ter contribuído para a sua conservação. Principalmente os que estavam soterrados nas Ruínas, e que acreditamos, fomos os primeiros a encontrar, depois de tanto tempo.

                A maioria deles estava escrita em um idioma extinto, semelhantes em origem ao anglespanhish, o que facilitou nosso trabalho, pois não foi difícil reconstituir após algum tempo a velha lingua, falada em grande parte do continente. Descobrimos, inclusive que era a lingua que falava o Augusto, em sua fase terrena, contrariando os escritores oficiais que, afirmam que o Augusto ja conhecia o Anglespanish e que pregara em nosso idioma, na parte final de sua vida física. Entretanto, não encontramos nenhuma referência direta a Augusto, embora encontrássemos dados de que sua física. Entretanto, não encontramos nenhuma referência direta a Augusto, embora encontrássemos dados de que sua vida ocorreu durante o período em que se falava o antigo idioma.

                Descobrimos, em nossas pesquisas, uma sociedade muito diversa daquela em que vivemos. O povo era “feliz” ou “infeliz” mas vivia de maneira muito mais intensa do que a nossa. A opção era um fato normal desejado, até. Havia “mitos”, ou seja, histórias morais ou não em que acreditavam e pelas quais, teoricamente deveriam pautar seus sentimentos. Eram homens que lutavam pela vida e possuíam, um medo horrível da morte, que muitos consideravam um mistério incrível, outros teorizavam a respeito dela dizendo que era a porta para o “Céu” ou “Inferno” onde os pecadores beatos iriam conforme suas ações. Mas eles vivam em toda plenitude, não importa que vivessem suas misérias e pequenos infortúnios(a palavra que significa coisa ruim, negativa, que porventura acontecesse a um ser humano), viviam cada minuto de suas existências numa total esperança de um melhor dia que eles mesmos não sabiam qual seria; mas lutavam por ele, até a morte.

 

Os seres humanos possuíam uma instituição a que chamavam casamento, onde um homem e uma mulher reuniam-se numa sociedade especial, com o intuito de praticar o ato sexual pelo puro prazer físico ou mental(eles referem-se assim à coisa) e procriar, mas parece que na prática isso dificilmente acontecia, e quando acontecia, frustravam-se(isto é, adquiriam um  sentimento de perda, de não ter conseguido alguma coisa antes ambicionada) tornavam-se melancólicos(isto é, cheios de “tristeza”) e muitas vezes passavam a agredir-se mutuamente, chegando, diversas vezes o macho a agressão física pura e simples da fêmea que em geral, era tratada como ser inferior, de capacidade limitada, quase sempre à procriação e controle de habitação onde viviam. Ao macho era destinada a manutenção material e proteção física da sociedade a que chamavam de “familia”, ficando à fêmea a proteção e criação dos filhos que em geral dedicavam a ela uma espécie diferente de sentimento por eles chamados  de “amor maternal”, uma espécie de recompensa pelo fato de aquela fêmea ter gerado e cuidado de sua  criação. Evidentemente é muito estranho para os nossos costumes tais atos, principalmente se considerarmos que suas decisões e realizações era em sua quase totalidade controlada pelos sentimentos, e não pelo raciocínio(eles chegavam a usar uma expressão muito característica para definir essas ações basicamente emocionais, como “falar com coração”, ou “agir com o coração”, como se o orgão do aparelho circulatório tivesse alguma coisa haver com a emoção e o sentimento). Entretanto era uma gente muito mais completa que a nossa, com mais incentivo para viver da maneira que pudessem, não como nossos contemporâneos que fazem apenas o que lhes é solicitado pelos Chefes de Corpos, que não aspiram a transformações sociais a não ser que sejam informados pelos mestres que possuem potencialidades para tal.

                o homem de há quinze séculos, decidia seu futuro tivesse ou não potencialidades conhecidas, e muitos deles, mesmo desencorajados por seus então mestres, em virtudes dos seus fracassos iniciais, continuaram sua luta de progresso(uma palavra que significa o galgar de posições sociais pelo simples esforço pessoal) e chegavam a postos importantes na sociedade, muitas vezes sendo mesmo responsáveis por frequentes alterações artísticas(é muito difícil explicar hoje o que seja o que eles chamavam de “arte”: era uma forma de ocupação não utilitária que alguns se dedicavam, aparentemente sem propósito final definido), científicas( eles chamavam de ciencias ao trabalhodo aperfeiçoamento de conhecimentos anteriores adquiridos) ou técnicas( a utilização prática daquele conhecimento adquirido por eles).

                Nossa sociedade não conhece nada daqueles homens que, inclusive contribuiram inconscientemente para a destruição de grande parte deles. Descobrimos, também que a causa da aniquilação de grande parte daquela sociedade cujos descedentes, através dos séculos se tornaram os nossos ancestrais, não fooram, como nos diz a tradição, o puro e simples aniquilamento pelos pecados que porventura houvessem cometido, por terem insultado a Fonte de Energia. Muito pelo contrário eles foram destruídos por uma grande quantidade de fatores, tais como o excesso populacional, as catástrofes geológicas que provocaram com sua civilização muito adiantada, o uso descontrolado de formas de energia que ora desconhecemos a contaminação do ar, a destruição das camadas protetoras da atmosfera. Como prova disso todos nós sabemos que, hoje em dia, se algum de nos se afastar o suficiente da área florestal, perecerá em virtude do baixo teor de oxigênio, do ar que existe nas planícies vazias, onde estão as ruínas daquela antiga civilização, nem tão pouca à beira do grande mar, pelo mesmo motivo. Todos nós sabemos de certas áreas onde ha a emissão de emanações invisíveis. É preciso então que se refaçam os estudos a respeito da origem do nosso povo, principalmente o que ficou estabelecido na última ordem de revisão. Parece que houve muitos enganos realisados pelos revisores, que interpretaram de forma errônea os primeiros Escritos do Livro, e criaram reformas que não são o retrato fiel da verdade do Augusto.

 

                Comparando nossas pesquisas com os primeiros escritos sobre o Augusto, parece-nos que ele pregava exatamente o oposto do que hoje se pratica e recomenda nas Normas e Regras. Seria muito mais interessante para todos, se o homem pudesse “amar” novamente, evidente sem o sentimento de “posse” individual; mas com o sentido da propriedade física de seres não vivos, propriedade de habitação, de uso próprio, etc. Haveria novamente motivação pessoal pela luta, pelo trabalho com o intuito de conseguir alguma coisa, tirando nossa sociedade do marasmo em que vive ha tantos séculos, presas a Normas e Regras sem sentido e que não são, na verdade, o espelho da palavra do Augusto, que, aliás, nunca escreveu livro algum, visto que sua palavra era tão verdadeira, que vararia os séculos por si mesma, como quase aconteceu não fosse a displicência ou a ignorância dos Revisores que lhe deturparam a palavra.

                Nosso povo seria, então, outra vez, “feliz”, é verdade que haveria novamente pobres e ricos(isto é, aqueles que possuem muito pouco e aqueles que possuem mais do que realmente necessitam), mas haveria a “felicidade”, justamente pela possibilidade de sair de uma condição para outra, ou lutar para manter a “riqueza”. Acredito que os do nosso povo não tem conhecimento, como nós, do que era esse sentimento especial, não podem avaliar como essa “felicidade” ou a busca dela alteraria sua vida de plenitude. Cheia de “amor” e muitas vezes “ódio”(sentimento de destruição, mas viveriam, seriam realmente homens, e não apenas parte integrantes de um todo. Com os conhecimentos que temos, seria possível manter as coisas em um nível razoável, que não implicasse m nova catástrofe como a que destruiu aquela civilização. Poderíamos usar as verdadeiras palavras do Augusto, eliminadas do Livro, que buscavam exatamente essa felicidade hoje esquecida e não, como disseram os Revisores, o abandono total de todas as emoções e sentimentos.

                Não acredito que nossas palavras sejam sequer ouvidas. Mas depois que se descobre a única Verdade , não se pode mais calar, mesmo com o risco de não ser ouvido ou morrer com isso, mesmo que para nós a morte tenha passado a ser algo não tão claro como o era antes das pesquisas, o simples viver de uma farça é-nos impossível. Mesmo que sejamos desterrados ou eliminados, desejamos que conheçam  o que realmente aconteceu, pois às vezes basta uma pequena palavra para que tudo se transforme, como aconteceu com as palavras do Augusto, através dos séculos.”

 

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                                                                                                                                                             (19 ....)

 

O carrinho azul manobrou, estacionou sobre a calçada, em frente ao muro branco. O motorista desligou o motor, saiu e sentou-se no paralamas traseiro, os pés sobre os parachoques, bem à sombra da árvore, olhando a estrada. Passava ônibus, automóveis, caminhões. A uns vinte metros, no ponto de ônibus, um grupo de alunos de um colégio tagarelavam, abraçando livros e cadernos. No pátio do colégio, ainda haviam alguns carros, que formavam a colcha de retalhos colorida em tons escuros e brilhantes. No prédio do colégio o movimento era de um formigueiro de gente que redemoinhava por todo o lado. As primeiras luzes que se acendiam, o ruído esquisito de um mimeógrafo elétrico, ao longe misturou-se ao som do toca-discos do Diretor, onde possivelmente tabuleiros de quadrinho preto e branco estavam cercados de alunos que jogavam damas e xadrez circunspectos, sérios.

                Do outro lado da estrada, algumas casas fechadas, dependuradas no morro em frente. De uma delas saiu uma mulher mal vestida, descalça, uma das mão pendurando uma bolsa de plastico encardido e a outra arrastando uma criança também descalça, suja e semi-nua.

                O homem do carrinhho azul ficou olhando a mulher tentando atravessar a rua movimentada, bem na curva sem visibilidade. Ficou numa semi-expectativa do acidente, numa vontade irresoluta de dar certo ou não dar. Os veículos passavam rugindo, pneus cantando, os ônibus dobravama rua a esquerda; o motorista xinga, a dupla sai ilesa e saltitando ainda, subindo a calçada. O homem do carrinho azul sorri.

                Olha sempre a estrada pros lados do posto de gasolina. Sabia que a casa da mulher que esperava ficava dquele lado, e que ela apareceria por ali. Cada vulto feminino que despontava ao longe era minuciosamente examinado, na expectativa ansiosa da aventura iminente.

                Tinha medo de não receonhecê-la. Era gozado: possuía uma péssima memória visual, embora os de sua profissão se gabassem todos do contrário. Era muito comum conversar com uma pessoa pela manhã e esquecer-se de suas feições a tarde. E nomes pior ainda. Total negação. O negócio, no caso de encontros marcados, era esperar a outra pessoa( a parceira, no caso) dirigir-se a ele. E este não reconhecimento imediato deixava-o inquieto, pois a possibilidade do desencontro aumentava consideravelmente.

                A hora marcada - cinco e meia - chegava, e nada. Já pensava em ter levado o bolo, mais um para somar a coleção que fazia - cavacos do ofício - incidentes desagradáveis que acontecem neste negócio de paquera. É um risco que se tem de correr.

                Os cigarros já estavam acabando quando finalmente a figurinha apareceu e foi, apesar de tudo, reconhecida prontamente. Calças pretas, blusa branca, cinto de couro largo, um andar calculado.

                - Olá, tudo bem?

                - Pensei que não viesse, só acreditei quando vi, o carro - e sorriu.

                - Eu sou como a justiça, nunca falho!

                - Ainda bem...

                Encaminharam-se  para o carro( ele fora ao encontro da moça) e a porta foi aberta pelo homem.

                - Vamos sair logo daqui, certo? - disse ela.

                - É melhor para nós dois.

                - É o que eu acho.

                O motor roncou suave - ele orgulhava-se da precisão cronométrica da máquina, em contraste com o desleixo da carroceria - e o caminho saiu devagar, procurando uma brecha no tráfego pesado de fárois cintilantes e lanternas vermelhas na tarde que se transformava em noite.

 

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As Normas e Regras

 

Capítulo II

 

 

                Nossa energia individual está aprisionada em nosso corpo físico que, para sobreviver, precisa manter a espécie. Através de um fato meramente carnal, porém necessário. A suprema fonte de Energia assim o quis, é um de seus misteriosos desígnios.

                A Suprema Energia é pura, perfeita, inteiramente raciocínio, sem máculas. O homem é seu produto e não deve dedicar-se ao seu físico. Esse físico pode produzir diversas emoções, que por primitivas e animais, devem ser evitadas por todos os humanos evoluídos, para que se mantenha a sociedade. Os instintos, por isso, são desviados conscientemente para a guerra, a todos aqueles que forem possuidores de pontecialidades guerreiras, pode e deve tornar-se um lutador, mantendo o povo eleito protegido dos animais e semi-humanos, que infelizmente, ainda não evoluíram o suficiente para viver entre nós.

                Então, os cinco sentidos devem ser apenas usados para as necessidades de subsistência, defesa e procriação. A mente do homem deve estar sempre sendo usada para fortificar a Energia Universal, não perder-se em inúteis e destruidores devaneios primitivos.

                Todo o homem evoluído deve contribuir, com suas preces auto-vitalizadoras, para a manutenção da Energia Universal, não perder-se em inúteis e destruidores devaneios primitivos.

                Os instintos de luta podem também ser canalizados para o jogo político. Como os Homens são todos iguais, deve ser direito de todos as possibilidades de alcançar os Corpos mais elevados, desde que possuam qualidade pessoais para tanto. Caso não possuam potencialidades de guerreiro, de político ou de sacerdote, é que a Fonte Suprema em sua indecifrável Sabedoria designou-os para um fim mais nobre e indispensável: a produção de alimentos, a transformação desses alimentos e de bens de uso comum, ou a distribuição equitativa desses bens entre toda comunidade.

                Como todos são necessários ao povo, não é preciso que se diga que todos tem o mesmo direito. Destinguindo-se aos corpos pela indumentária prevista nas Regras.

                Como o corpo físico é, ao fim, pertencente A Fonte de Energia, pertence a todos, e ninguém suficientemente evoluído pode negá-lo a outro ser humano, pois estaria negando o alimento a si mesmo.

                A procriação será sempre controlada pelos Ministros Encarregados que estipularão os nascimentos de acordo com os números de mortes, de que a população nunca exceda os limites previstos pelo Augusto.

                Todo ser humano tem o direito de ouvir o Augusto e, caso não possua suficiente desenvolvimento de supra-consciente para tal, poderá sempre *********************** auxílio, onde um número necessário de pessoas pela concentração e transmissão ,  poderá ajudar o ser-humano necessitado a ouvir as palavras do Augusto que se mantiveram através dos séculos.

 


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                = 2 =

 

 

                                                                                                                             (19...)

 

                Penetrou na multidão como se fosse um salto no oceano, fechou a mente e encolheu os braços e - foi em frente. Pessoas esbarravam sem que sentisse; passavam, mulheres gordas arrastando crianças e embrulhos, bandos de moças em vestes coloridas - saias verdes, azuis, amarelas. Um homeme de camisa branca aberta ao peito na beira da calçada vendia alguma coisa sem importância, quando passou a banca de jornais com dentes brilhantes de papel verniz, e os olhos cheios de manchetes preto e branco dos jornais.

                Havia um sol comum de verão quente, e sentia o suor começar a escorrer pelas axilas, inundar lentamente a camisa branca e ultrapassada. Os cabelos revoltos, quase uma réplica dos cabelos de um Bethoveen sem muitas loucuras e com muita audição para os problemas seus e do mundo, dançavam-se ao vento quase inexistentes, que o passar de um automóvel qualquer balançava em redemoinhos a poeirinhas das calçadas.

                Fora um dia duro; trabalho - sim gostava de seu trabalho - mas o calor era muito grande, e cansava. Como explicar-se o que acontecia? Não sabia. Ás vezes pensava que não fora feito para o tipo de vida que vivia, sabia lá, complexa, comum, corriqueira...

                A pasta começava a pesar toneladas, e o guarda pó, pendurado no braço lá recolhendo a sujeira do mundo. Pouco ligava para a aparência e mesmo as aparências, fossem quais fossem. Os sapatos. Não muito velhos, pisavam as calçadas velhas da rua principal do suburbio escondido. Havia lojas cheias de gente e de brinquedos, acima de tudo brinquedos de mil formas e cores. Papai noel se multiplicava nas portas das casas, e as crianças de sempre, talvez mais massificadas, mais ainda sempre na atração irresistível do velho natal, importado dos países frios. Era até gozado, naquele calçadão, árvores cheias de falsa neve, e o velho-moço em roupas vermelhas e barbas brancas... papai noel no Brasil deveria usar bermudas, sandálias de couro, e um chapéu de palha verde e amarelo! - Nem poderia faltar camiseta colorida, né?

                Entrou num bar, pediu um maço de cigarros baratos, não por economia, mas por costume; nos ultimo tempos, esquecera-se de um dia em que estivesse totalmente liso, talvez para compensar que nunca houvesse um outro dia em que possuísse de verdade muito dinheiro. O dinheiro, em sua profissão chegava aos poucos, sem dias muito certos, e era difícil para controlar-se ainda mais se considerava um descontrolado em finanças - pra que serve dinheiro senão prá gastar?

                Aproveitou e pediu magnesiana, que esvasiou rapidamente sem que a sensação de secura desaparecesse de todo. Na porta do bar, parou um minuto e ficou olhando o refluir da multidão natalina. Gostava de parar e ficar à toa como todo mundo, mesmo que não houvesse nada para fazer, num eterno não-agir. Bem a sua frente, uma familia inteira atacava um taxi resfolegante de dezenas de corridas, era um carro velho, que abriu as portas todas, e deixou entrar a velha de vestido indefinível ainda. Outra matrona sentou-se à frente e o taxi rugiu, falavam moderrentemente sobre alguma coisa de pouca importância.

                Saiu devagar, carregando a pasta e o guarda-pó. Tinha a mania besta de deixar o carro longe do trabalho - preguiça de procurar vaga de estacionar - morreria de calor. Andou mais uns duzentos metros, dobrou a esquina achou uma área cercada cheia de veículos arrumadinhos que esperavam pacientemente por seus donos, esquentando-se ao sol numa vingança tímida de se transformarem em fornalhas de metal e plasticos quentes. Pagou ao mulato amigalhão e sorridente, que lhe deu um papeluxo amarelo, que ficou debaixo do limpador de parabrisas.

                Realmente, o inferno deveria ser mais fresco do que a cabine. Jurava que daria para fritar um ovo sobre o painel. O termômetro marcava o máximo de sua capacidade - sessenta graus. Também estivera exposto ao sol todo o tempo.

                Fez a manobra agilmente - orgulhava-se  da perícia que ia adquirindo lentamente, ha tempos, no volante do veículo. Apegava-se aquela máquina velha chacolejante, como se apegava a tudo que lhe parava nas mãos, durante a vida: gente, coisas, lugares, tempo, tudo. Sentia uma incapacidade muito grande de se desligar do que fosse seu, parecia-lhe ser traição a um velho amigo, como no conto do chapéu velho. Só que tudo de seu era um chapéu velho, esquecido num canto de seu armário.

                Enquanto o carro rolava, pensava que talvez fosse um tolo. Sentia que era muito apegado às pessoas, amigos, conhecidos de ocasião, adorava sua casa, seus trastes, seu trabalho, seus companheiros. A alma parecia-lhe, se é que tinha uma alma, cheia de um apego absurdo por tudo. E sentia a trasitoriedade das coisas materiais e espirituais, achava que se perdesse tudo o que possuísse, nada mais haveria. Lugares, pessoas, amigos, mulheres. O que seria dele sem seus paegos?

                Seguiu pela via de acesso, dobrou por uma transversal, atravessou a linha férrea, e segui numa rua desesrta cheia de árvores e terrenos cobertos de matos rasteiros. Achou uma série de sinais abertos, sorrindo de verdes para o carrinho azul desbotado. Parou em frente a uma casa branca, não muito grande, com portão de maneira que rangeu quando ele passou.

                O carrinho, mais uma vez ficou abandonado na rua, esperando, esperando, triste destino dos objetos de uso.

                Talvez ele mesmo fosse um objeto de uso, de muitas pessoas, e até muitas coisas. Afinal de contas, quando procurava alguém para ficar com ele, como a amante secretária do curso ou mesmo a mu;her de casa, velha dona encrenca, estava, como que procurando um par de meias ou um relógio novo; no fundo apenas lhe interessava a posse, seja absoluta ou parcial, seja uma posse física ou um domínio de espírito(espirito?) de alguém - uma amizade nada mais é do que o cerceamento da ações de alguém em detrimento dos outros, e em favor de apenas dois; e um pacto discreto de não agressão e de defesa contra os outros, é posse acima de tudo. E cada um passa a ser coisa do outro: meu amigo, meu colega, meu, meu, minha - posse, posse, posse.

                Talvez o certo fosse não ter dono, nem ser dono. Mas não possuia o sentimento de liberdade. E para se libertar, seria preciso uma luta enorme, uma luta interior e uma luta exterior. Cada qual mais difícil que a outra. Isso não era com ele.

 

                Teria de destruir uma estrutura criada desde os primeiros dias de sua vida - primeiro, o lar paterno, a doce tirania intelectual de um pai culto e conhecedor das coisas.

                Gostava , é incrível, disso tudo: até das crises financeiras que iam e vinham, gostava de vivê-las; aceitava as coisas como eram, sempre passivo e adaptado, sempre considerado um boa-praça, um sujeito legal, o tipo do camarada em que se pode confiar. Também concordava com tudo o que os outros faziam, sempre evitava um entrechoque de idéias por menos ríspido que fosse, fosse com quem quer que fosse. Covardia, acomodação e preguiça.

                Logo ao abrir a porta, ele tirou a camisa, jogou-a de qualquer jeito sobre as costas de uma poltrona preta, sentou-se, e tirou os sapatos. Onde enfiou os pés morenos e grandes. Acendeu o cigarro, encostou a cabeça, e ficou como se procurasse um ponto indefinível no teto azul, onde um lustre de cristal balançava as gotas de vidro ao sabor da aragem quente, que se escoava pelo branco imaculado das cortinas de musseline.

                Um cheiro forte de alho e cebola queimado, vindo do interior da casa, junto com o ruído de coisas fritando. Ruídos e odores desagradáveis para um dia quente como aquele.

                - Já veio? - disse uma cabeça feminina que aparecera numa porta. Os papelotes que emolduravam-lhe os cabelos louros, grotescamente. As faces estavam vermelhas pelo calor do fogão, com as mãos gordurosas, um avental manchado de centenas de coisas diferentes, meio de lado, sem estética. Limpava as mãos magras e finas com unhas compridas, sem pintura, mas bem tratadas.

                - Já. Estava muito quente. Não deu para ficar mais.

                Ela entrou na sala, apanhou a camisa que ficara jogada na poltrona, e virou-se para ele:

                - Tem que chegar e jogar as coisas pela sala, tem?

                - Me esqueci.

                - Já chega e começa a fazer das suas. Depois reclama que eu falo. Pois falo mesmo. Você não colabora! Custava chegar e pendurar a camisa suada deste jeito, prá secar? Custava? Vai almoçar agora, ou depois?

                - Agora.

                Ele levantou-se, passou por ela, deu-lhe um beijo no rosto, e entrou no quarto. As paredes amarelas retinham o sol causticamente, e o quarto parecia uma sala de espera, da casa do diabo, tão quente estava, ainda mais com as cortinas, também amarelas, que davam maior impressão de calor. Abriu o guarda-roupa, tirou uma camisa velha, já com alguns remendos discretos, uma daquelas camisas confortáveis e velhas, que já curtiram tempos com o homem. Vestiu-a. Enquanto o fazia, quase sem querer olhou-se no espelho comprido que enchia a porta do móvel negro. Viu a figura de uns vinte e poucos anos, um físico razoável tez morena, queimada do sol carioca, um rosto feliz, olhos tristes, castanho escuro. Nariz aquilino, maças salientes, cara quadrada de homem másculo. Sim, tinha muito orgulho de sua masculinidade. Sentiu um certo prazer em ver-se admirado pelo sexo oposto, às vezes de perceber a inveja dos outros homens. Sabia-se bem formado, não muito alto, protegido pelos ombros largos e fortes, peito e braços peludos, cintura estreita, que os poucos anos não conseguiram destruir, ainda. Sentia-se aquele corpo. Era aquele corpo.

                Jogou o cigarro descuidadamente, ele bateu inevitavelmente na cortina e caiu no tapete. Correu, apanhou-o, pisou esbaforidamente nas cinzas e jogou o toco fumegante janela a fora. Sorriu e pensou: “se ela tivesse visto, bronca na certa. Me livrei desta”.

                Foi até a cozinha. Falou para a mulher:

                - Bota meu prato.

                Entrou na sala de jantar, sentou-se à mesa, pegou uma revista velha, e começou a folheá-la.

                Minutos depois, ela entrou com o prato feito, depoisitou-o sobre à mesa, cobriu com um pedaço de toalha parte da mesa, e colocou o prato de fronte a ele.

                Ele começou a comer, enquanto ela, na sala de visitas, ligava o rádio numa estação aleatoriamente, e os garotos da vizinhança, lá fora iniciavam uma algazarra por qualquer motivo.

 

 

                o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o 

 

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                                                                                                                             (33....)

 

 

 

Capítulo XVI

 

                O mundo físico é uma ilusão necessária à Fonte de Energia. Ele existe por seus desígnios e é vedado ao Ser Humano sua compreenção, por divina que é.

                Entretanto para que não se viva sob temores e dúvidas, aprendam que tudo é eterno, inclusive o próprio Homem. Ele sempre existirá, mesmo após a transformação de seu corpo físico em substâncias já não vivas, sob a forma de Energia, integrada ao todo, ainda mantendo uma certa individualidade e consciência, porém integrado na Fonte de Energia. Que engrandecerá de alguma forma com sua pequena, mas necessária contribuição. Você não pode morrer. Morte é uma impossibilidade. Nada morre. Cada personalidade humana, cada ser, seja animal, vegetal ou ser humano, é o todo tridimensionalizado, e por isso, quando acontece o que chamamos de morte, é apenas seu retorno a Única Realidade, que ele, na verdade, jamais deixou de ser! Você não morre. Quem morre é apenas a sua personalidade mundana mortal, tridimensional. Sua personalidade é uma criação mundana, nada objetiva, nada divina. Ela foi criada no momento em que você nasceu, e começou a ter forma desde o seu primeiro respirar, sua primeira percepção. Aos poucos, entretanto nos universos pessoais dos que os rodeavam, você foi criando seu mundo, fazendo a realidade que você hoje acredita ser seu universo pessoal. Certo, sua personalidade morre. Tem que morrer, porque é a única coisa falsa, exterior. Você, o você de verdade que existe aí dentro é anterior, é anterior a personalidade, mesmo superior a ela. Esse você NÃO MORRE NUNCA Esse você é eterno, porque é o SER Criador que engendrou sua personalidade.

                Quando você “morre”, o que morre é a sua personalidade. Se você foi tolo o suficiente para acreditar-se sua personalidade, pensará morrer. E morrerá. Mas se, ainda vivo, você conseguiu ultrapassar a sua personalidade, terá se tornado eterno em vida, terá alcançado a Vida Eterna, aqui e agora!

                Mas, sua personalidade morre. E por isso VOCÊ fica vivo. Porque você deixa de ser a sua limitada personalidade, limitada tempo-espacialmente, e se tornar o todo, o tudo. Deixa de ser a coisinha medíocre que se acha agora, para ser o sol, as árvores, os oceanos, a Mãe terra, VOCÊ SE TORNA DEUS!

                Vocês aprenderam que há alguns livros sagrados de certas religiões que dizem isso literalmente “sois desses!”  E é pura verdade. Deus está dentro de você e você e Deus vivendo. Apenas basta aceitar, entender e vivenciar(este o problema!) isso terá todo o poder possível. Certo em seu mundo objetivo sua personalidade pode ser ferida, agredida, etc. mas VOCÊ É INATINGÍVEL! E NADA NEM NINGUÉM PODERÁ ACESSAR A SUA CONSCIÊNCIA, SE VOCÊ NÃO QUISER. TUDO PODE SER FEITO AO SEU FÍSICO, que isso não necesssariamente atinge seu interior.

                Mas ainda que isso tudo, a fonte de Energia está dentro de você.

                Assim, todos são parte da Fonte de Energia, e devem viver sempre com esse conhecimento, para que não desperdicem sua Energia Pessoal às emoções e sentimentos, o prazer pelo uso dos sentidos físicos. Quando mais o Homem se entrega ao físico, mas se distância da Energia, e dificulta sua obra.

                O Homem precisa saber que vive fisicamente uma ilusão dos sentidos. Na verdade, não existem o tempo e o espaço, percebidos apenas pelos sentidos físicos, pois é por eles que o Homem físico se apercebe de sua existência. A Fonte de Energia assim o quis, para o bem do Universo.

                Assim, a vida terrena é uma eterna ilusão, a qual não se deve entregar o Homem evoluído, que sabe ser seu lugar a Fonte de Energia para onde voltará.

                O Homem físico tem consciência de sua vida temporal porque só pode aperceber-se dela em termos de Tempo e Espaço; assim dentro dessa ilusão, sua vida tem um princípio e um fim; mas, apesar de tudo esse início e fim nunca existiram, na verdade o Homem, seja ele qual seja, existiu sempre, pois na Fonte de Energia não ha tempo nem espaço, apenas é, sempre.

                Não deve o homem preocupar-se com essa fração de tempo, pois na verdade, sendo ele Energia da Fonte, é eterno como ela. Deve, pois, conscientizar-se que é um ser eterno e não procurar viver temporalmente através do físico, que é apenas uma representação ilusória da Verdade.

 

 

 

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                                                                                                                             ( 19...)

 

 

 

                Hoje é um dia muito chato. Estou com vontade de escrever qualquer coisa. Pensei em fazer um diário. Não. Um diário é muito pessoal, sei lá, um negócio muito frio parece ser uma carta comercial à posteridade. Aliás, nem sei se a posteridade vai um dia saber que eu existi. No fim, uma laje de pedra(alguém vai cuidar disso, eu sei) uma vez ou outra uma florzinha triste murcha. Alguém vai passar, olhar o nome pouco comum, e talvez nem pensar nada. Eis a posteridade, de modo geral.

                As lembranças passeiam em minha mente numa semi-cerimônia assustadora. Lugares, pessoas, cheiros, lembranças apenas... Mas como atingem!

                Relembro, tolo, as tardes em que voltávamos do colégio, mãos dadas, os colegas de sorriso cumplíces e alcoviteiros ... as árvores ao lado do quintalzinho de terra batida, como um largo caminho de areia fina e cinza, um oásis no meio do sítio velho e abandonado pela família que se deteriorava. Mas nós nem ligávamos...

                Muito mais tarde, já em nossa pequena casinha, conversávamos deitados à noitinha, na nossa macia cama de colchão de crina. Era rançoso e um pouco vadio. Mas havia uma rebelião de estudantes, haviam destruído um restaurante, houvera uma passeata, a polícia estava nas ruas, e os bancos haviam fechado. Precaução(tola). Banco é gozado; faz o funcionário trabalhar feito escravo, o dobro do tempo estipulado, não paga horas extras, mas tem vantagem: basta um policial ou um político dar um espirro, fecha tudo - feriado bancário(depois tem serão à vontade pra compensar o tempo perdido).

                Pode parecer que estou tentando ser um escritor, um romancista, alguma coisa assim. Puro engano. O que acontece é a necessidade imperiosa de contar a alguém desconhecido, pois que inevitavelmente um de vocês(ousadia o plural, presunção até) que está lendo este negócio, numa edição vagabunda, ou mesmo os originais tão pouco originais desta coisa datilografada numa máquina Remington mod. 17, fabricação de 1928, caixa aberta, vocês devem ser desconhecidos, pelo menos espero. Talvez esta conversa mole toda não o agrade, ou talvez a problemática do que conto não o atinja muito, o que duvido, desde que você(passo para o singular, desculpe) já tenha vivido o suficiente, pelo menos uns trinta anos ou mais. Pode ser que acho até tão corriqueiro o que conto, que sinta enfadado a cada linha. Não faz mal. Tenho certeza que muita gente, como eu, não sabia que a coisa era assim( e o é, sempre, igual, sem diferenças, entre a maioria. Mudam as situações, os nomes, os lugares, mas o enredo básico é sempre o mesmo - monótono chato). Tenho certeza que se tivesse lido um livro desses em minha adolescência pensaria uma vez mais ao me meter em muitas coisas que me meti. Pode ser até que este lenga-lenga valha como ensinamento de vida, como curiosidade de estilo, ou mesmo, como diria o velho filho da lavadeira que fundou a academia, apenas para passar o tempo da barca de Petrópolis, se é que ainda vale apena ir à Petrópolis. Sei lá. Sei que tenho vontade de escrever e escrevo.

                Quero guardar o que lembro. E quando morrer, quero alguém lembrando por mim. Esse é o motivo. Sua mente lembrará. Afinal, quem sou eu sem minhas lembranças?

                Muita gente vai dizer que estou imitando estilos. Pode ser até que elogiosamente digam que imitei o Miller uns que sigo atrás do Nelson(o escritor, não o almirante), e mesmo reconheço que este bagulho literário parece um pouco com o que escreve o Sade. Os três que me desculpem a familiaridade no trato, mais assim fica mais ameno, quase familiar, parece que os conheço desde os tempos de colégio, e no meu tempo de colégio ninguém que tenha sido meu colega se dignou a transforma-se num escritor, medíocre sequer. Azar o meu, tenho de inventar um outro tipo de memórias da juventude. Escritor ou não, a verdade é que as aulas vão começar mais uma vez. Isto de ser professor é gozado. Agente está inserido, não no contexto, mas no sistema, até ao último fio de cabelo. Nossa obrigação é transmitir o legado das gerações anteriores, às rebeldes gerações que chegam cabeludas e barulhentas. Bem eu também, de um modo geral, sou cabeludo, nas idéias e barulhento na vida em si. O interessante é que não sou um conservador, nem sequer chego a ser um acomodado. Acredito na mudança gradativa e necessária das coisas,  sem ser de esquerrda, esta que quer mudar a face das coisas. Tenho idéias, como todo mundo as tem, mas não participo de ações, não assino manifestos nem tomo parte de movimento ou grupos. Assim como a esquerda tem suas vantagens, a direita também as tem, e o centro é muito solitário. Solitário por solitário, não me meto.

                Se tivesse coragem, iria ser um contestador, talvez não por ideologia romântica, mas por comodismo e gosto do tipo de vida. As obrigações e preocupações, de um modo geral me assustam. Fujo delas. Gostaria de, como propago aos quatro ventos mentirosamente, fazer apenas o que dá na veneta.

                Pode ser que eu seja apenas um preguiçoso. Mas o mundo pertence aos preguiçosos. No fundo os homens lutam, se agridem vencem ou morrem, para que uma meia dúzia de vivaldinos aproveite no bem-bom o que há de melhor na vida. Sendo assim, o melhor é não fazer nada mesmo. Mas a gente sempre faz. O analista diz que a gente vive condicionado pela cultura que adquiriu enquanto cresceu, e não daquilo que pensa ou acha. E tem razão.

                Quando nos mudamos para nossa primeira casa. Havia uma torneira(a do banheiro, mais precisamente) que havia simplesmente acabado de funcionar, para sempre. As rosas estavam gastas, era irrecuperável. O remédio era a troca, pura e simples.

                Minha mulher, logo a viu, iniciou a cantinela pró-concerto. E tinha obviamente, a maior das razões.

                Tenho que reconhecer não ser real o que eu disse acima. Não era propriamente uma cantinela, não. Ela pedia com carinho. Com tanto carinho que aborrecia. Só se queimava vez ou outra, quando a paciência acabava, de uma vez. Tinha razão. Bem que eu poderia ter consertado, ou mandado alguém consertar. Bem, eu o faria se desse o devido valor à coisa. Sempre havia coisa mais importante a fazer, ler o jornal de esportes, ouvir meu pagode, tomar uma cerveja com a turma ou mesmo pensar nas coisas que eu nunca iria fazer, mas achava que ia.

                Vez ou outra eu ia lá, amarrava a torneira com barbante, daquele jeito que você bem conhece, sempre, sempre fica pingando um pouquinho, mas o jorro não sai. Acho que a vida é isso mesmo, impedir o jorro forte de sair, e não se importar se pinga um puco. E era o que eu fazia de um modo geral. Certo ou errado? Não sei. É assim que eu fazia.

                Certo dia cheguei a pedir emprestado uma chave inglesa do vizinho, desmontei a coisa, arranjei na caixa de ferramentas do carro umas borrachinhas e improvisei um conserto. Durou dois dias. Uma noite, o barulho de cataratas anunciara que a pia enchera, transbordara, e o banheiro virara um novo mar morto, cheio de pedacinhos de papel higiênico boiando, barquinhos azuis no mar vermelho.

                Mudei de lá a torneira do mesmo jeito. Ignoro se o novo inquilino consertou a torneira.

 

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                ( 33 ....)

 

 

 

TRADIÇÃO

 

Capítulo XXI

 

DAS ORDENS E PRECEITOS HUMANOS

 

                - Não há diferenças importantes entre os sexos. Todos os trabalhos devem ser efetuados por todos.

                - Todos os seres humanos devem participar dos trabalhos comunitários, a medida que vão sendo capazes para isso fisicamente, qualquer que seja seu tempo de existência.

                - Aos seres humanos de menos de oito anos de existência, é vedado o comparecimento a reuniões públicas.

                - Os que magoarem seus irmãos e filhos, serão eliminados e purificados, conforme a gravidade da mágoa.

                - O trabalho deve ser a realização do homem.

                - Ninguém deve manter-se ocioso desde desperto.

                - O tempo de vigília deverá ser dedicado, conforme determinações dos ministros e dos Pamareshdents, entre a realização de tarefas, estudos e preces.

                - Os anciãos, que não possam mais realizar trabalhos físicos, serão encarregados de esclarecer os novos seres nascidos da  coletividade. Iniciando-se nos ensinamentos do Livro na Tradição, Normas e Regras.

                - Os anciãos devem ser os depositários do conhecimento adquirido que transmitirão aos seres já em idade madura, em palestras e reuniões mantendo os costumes e habitos pregados pelo Augusto.

                - Os anciãos deverão dedicar maior tempo ao sono e ao descanso para manutenção do seu físico.

                - Os anciãos que não mais conseguirem realizar as tarefas que lhe forem prescritas, serão suavemente eliminados, através da ministração de drogas que devolvam sua Energia à Fonte de Energia, sem sofrimentos físicos desnecessários, para que a Energia não se macule.

 

 

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                                                                                                                                                             ( 19 ....)

 

                O locutor do jornal falado deu o boa-noite, sorridente, veio o corte, o sufixo de finalização do programa ouviu-se no aparelho, igual como todos os dias. Ele dormitava no braço do sofá, deitado de comprido, meio enrolado no cobertor. Ela, sem se levantar, olhou-o primeiro sem expressão, depois com um certo enfado. Levantou-se finalmente, claçou os chinelos, veio até perto dele, acordou-o.

                Arrumou a cama, acendeu o abajuor, depois de um certo tempo colocando os papelotes nos cabelos. Antes olhara-se no espelho. Era bonita, ainda. Afinal, tinha apenas vinte anos. Muita mulher ainda não fez nada aos vinte anos. Uma criança, podia considerar-se. Mas tinha um marido bom, amigo, trabalhador. Amava-o, a seu modo, como amava o lar que criara, junto dele, dia após dia, minuto por minuto. Era curioso: ao mesmo tempo amava e detestava aqueles objetos que enchiam a casa, os móveis, os aparelhos elétro-domésticos, a roupa de cama, a sua própria roupa. Amava-os porque faziam parte do seu mundo, de seu lar, de sua casa. Era o único mundo que conhecia. Não era o que planejara, fora levantada quase que de roldão; mas aceitara, adaptara-se a ele, e aprendera a lutar sozinha, filha de um pai que apesar de ser no fundo um homem fraco e frágil, parecera por toda vida um tirano, que governava a vida de seus irmãos, dia por dia, hora por hora.

                Um de seus irmãos, o que vinha logo abaixo dela, dois anos mais moço(era a mais velha) não aguentara. Aos dezessete anos saira de casa, e fora viver sua vida. Não fora muito longe, parara na casa de sua avó, mas saira do jugo paterno. Hoje era solitário, independente, livre para curtir seus complexos, junto aos complexos das outras pessoas. Adaptara-se a vida como ela era, só isto.

                Ela não. Ficara. Suportara tudo, dia após dia.

                A única vez que se rebelara contra o pai, foi por causa do noivo, então namorado, e depois marido. O pai não gostara de um certo fato sem importância, e ameaçara-a com a conhecida opção, o truque rural que se usava de mocinhas casadeiras que se tornam chatas ou inconvinientes.

                - Você decide, namora ou estuda. Os dois não. Não estou disposto a ter mais aborrecimentos, vocês ja me encheram muito a vida. É só decidir. Um ou outro - a resposta , para o seu própiro assombro, foi clara e alta:

                -Estudo e namoro. Sou maior, não estou cometendo um crime, tenho direito a fazer o que quero, desde que não esteja totalmente errada. O senhor não vai me dobrar desta vez.

                O velho, incrivelmente para ela, calou-se. Não disse nem que sim nem que não. Afastou-se apenas, ficando a ameaça pairando no ar. Mas quem cumpriu o prometido foi ela, continuou estudando, o namoro adiantado, adiantou-se mais ainda, e afinal casou-se.

                O casamento fora uma libertação. Quando começou ele, pesava pouco, uns cinquenta quilos, talvez. Também quase não se alimentava, as preocupações eram tantas, as brigas dos pais, a doença do irmão ficando maluco, a doença da mãe, a morte finalmente, e o ódio entre as familias, não dava para comer nem engordar.

                Mas ficara noiva, começara a se alimentar melhor. Não soube nunca direito porque. Talvez a porta aberta a um futuro melhor, mais calmo.

                Quando se casaram, ele até notara o fato. Estavam na casinha de fundos, num bairrozinho afastado, que parecia próprio a um casalzinho romântico iniciar a vida a dois. A mesa rústica, coberta com toalha de plastico com florzinhas, estava posta. Jantavam, ao som do radinho de cabeçeira, único aparelho doméstico que possuiam, além do ferro de engomar. Ele dissera:

                - Filha, que é que deu em você? Na casa do teu pai, come menos que um passarinho, hoje parece uma lobinha! O que é que houve?

                - Sei lá. Acho que é porque estou feliz. É, deve ser isso.

                Ele brincara:

                - Puxa, vê se não vai me ficar gorducha, tá? - e alisou-lhe as pernas por debaixo da mesa, meio escondido, como se houvesse alguém que pudesse observá-lo, ali, naquela casinha escondida e quente, nos fundos da outra casa que estava maior parte do tempotavia.

                A noite estava quente, eles ficaram depois do jantar um tempo enorme abraçados no sofá. Ele lia, como sempre, um livro qualquer, e ela folheava um porta folhas com anotações do colégio. Ainda estudava, naquele tempo. Trabalhavam e estudavam, os dois.A luz apagada, a sala iluminada pela sempre romântica e terna luz das estrelinhas vagabundas, fizaram amor ali mesmo, no pequenino e cretino sofazinho vermelho com braços finos e frágeis de madeira. Sentia que cada vez se prendia mais àquele homem, que a tirara do inferno, e lhe dera um pedacinho do paraíso meio pobre, meio na base do arruma-se como se pode, mas cantinho feliz, longe de todo o passado odioso que ficara para traz.

                Adormeceram ali mesmo, no pequenino sofá. Eram felizes.

                Os pensamentos cavalgavam rápidos e maus pela mente enquanto passava o pente na ultima mecha de cabelos, antes de enrolá-los no papelote. Agora a coisa estava muito diferente. Os carinhos tinham ido embora, os beijos tornavam-se raridade.

                Levantou-se e foi acordá-lo - sacudiu-o, a princípio com carinho, depois rispidamente.

                Ele resmungou qualquer coisa e tornou a dormir. Sacudiu outra vez aquele corpo que parecia um pequeno monstro desconhecido, a boca aberta, os braços moles, o cabelo desarrumado, os olhos remelentos e feios. Irritou-se, chamou-o mais alto, quase com raiva. Chamou-o muitas vezes, até que finalmente levantou resmungando coisas ininteligíveis. Sabia que ele era assim, sempre que acordava, custava a ficar desperto totalmente. Muitas vezes estava de pé, mas dormindo ainda, até com os olhos fechados - falando coisas desconexas. Já sabia o ritual, e ele a aborrecia. Não conseguiu conter-se e admoestou-o, quando viu que ele ja estava bem desperto, ou quase isto, pelo menos acordado o suficiente para ouví-la:

                - Como é, vai dormir aí, no sofá, é?

                - Não.

                Sentiu pena de si mesma.

                -  Puxa, esperei você o dia inteiro, esperei você jantar, esperei descansar do almoço, agora vai dormir...

                Sua voz tinha um que de lamento, meio choroso, meio terno, meio sexi.

                - Que é que eu posso fazer? Fiquei ouvindo estas porcarias destas novelas chatas, fiquei com sono, agora acabou-se. Hoje não. Deixa prá amanhã.

                - Amanhã, amanhã. Você pensa que sou de ferro? Sempre esperando, esperando.

                Tou cansado, com sono, não estou com vontade de nada, tá?

                Ela olhou para ele, ainda estava sentado no sofá, ainda acordando. Deu-lhe as costas, e entrou no quarto. Encostou a porta.

                Deitada, ouvia a agua caindo do chuveiro. A porta abriu-se. O barulho do interruptor fez-se forte na casa do silêncio.

 

 

                o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o

 

                = 27 =

 

 

                                                                                                                                             ( 33....)

 

                No ano de Augusto, no terceiro mês, e dia 42, dia da transformação do Enviado, reuniram-se na habitação dos Sacerdotes do enviado, todos os componentes do clero, políticos-militares.

                E neste glorioso dia, considerou-se sagrada a Ordem de Revisão que interpretou definitivamente os primeiros escritos do Descriminador Taulo, bom como os textos seguintes.

                Das Revisões feitas sagrou-se também os postulados que são:

 

AS NEGATIVAS

 

                01 - Não sentir emoções, sejam quais sejam

                02 - Não ambicionar o que quer que seja

                03 - Não almejar o prazer

                04 - Não esconder suas potencialidades

                05 - Não desejar um só indivíduo, mas a todos os indivíduos

 

 

AS AFIRMATIVAS

 

                01 - Conhecer integralmente o Livro

                02 - Cuidar de sua Energia

                03 - Produzir para o Todo

                04 - Aceitar os encargos que receber

                05 - Viver para o Todo

 

 

                o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o

 

 

                = 7 =

 

 

                                                                                                                                                             ( 19 ....)

                Sentiu o corpo frio do chuveiro encostar-se a ela. Arrumou-se na cama como pode, fingindo dormir. Ele ajeitou-se espalhafatosamente como sempre fazia, e ela fingiu acordar. Procurou os olhos do homem deitado ao seu lado. Ele também a olhava com olhar indecifrável.

                - Estou com sono.

                - Sei.

                - Bem, com um pouquinho de jeito...

                - Vem...

                - Não posso. Não sei porque, não posso! Não posso!

                Ela inicia um pranto fino e longo, que depois se perde num mar de soluços ritmados e bruscos. Ele, a cabeça  afundada no travesseiro os olhos fixos no teto, fuma um cigarro tragada por tragada, quase sem intervalo entre um trago e outro.

                - Vamos dormir, mulher. Eu avisei. Você sabia.

                Ela não responde. Apenas olha nos olhos do homem, com uns olhos de lágrimas tristes. Depois, vira-se para o canto, e tenta dormir.

 

 

                o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o

 

                = 28 =

 

 

                                                                                                                                                             ( 33 ....)

 

 

CAPÍTULO X L V I

 

DOS PECADOS E DOS PECADORES

 

                - Pecador é aquele que se deixa dominar pela emoção.

                - Pecador é aquele que se deixa dominar pelo ódio.

                - Pecador é aquele que não vitaliza sua energia.

                - Pecador é aquele que sente prazer nos atos físicos

                - Pecador é aquele que desobedece aos ditames  gerais.

                - Pecador é aquele que se entrega aos sentidos físicos.

                - Pecador é aquele que não dedica sua mente e à Energia.

                - Pecador é aquele que não se instrui.

                - Pecador é aquele que usa sua mente para pensamentos sem importância.

                - Pecador é aquele que não domina seu inconsciênte.

                - Pecador é aquele que não conhece seu supra-consciênte.

                - Pecador é aquele que se afasta da Fonte de Energia.

                - Pecador é aquele que não ouve a voz eterna do Augusto.

 

 

                o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o

 

                = 8 =

 

 

                                                                                                                                                             ( 19 ....)

 

 

                Sou uma besta. Evidentemente eu sou uma besta. Estou num quarto de hotel, em Teresópolis, com uma mulher ao meu lado, dormindo numa pose estranha.

Consiga como leitores. Ou entao você é um futuro meu candidato a meu editor, se é que vou ter a cara de pau de um dia tentar publicar essas besteiras que eu ando escrevendo feito idiota, besteira por besteira, tantas já foram publicadas que uma a mais não faz diferença.

                A única questão é que eu não estou fazendo fcção. Estou escrevendo num quarto de hotel em Teresópolis, e ha mesmo uma mulher ao meu lado, na cama e embora tenha reclamado a princípio do abajuor aceso, e do balançar do sensível colchão enquanto escrevo, não demorou a dormir, cansada da viagem.

                Bem, eu preciso explicar - ela não é minha mulher, pois que está comigo, não é porque sou na verdade casado com outra. E essa outra está longe, lá no Rio, na Zona Norte, em minha casa, meus bagulhos e saudades de mim.

                Ela deve sentir saudades, eu sei. Mesmo quando uma imbecil atira o marido, pela janela nos braços da primeira vivaldina - aliás, a primeira não, que essa é talvez a quarta, das outras eu consegui escapar - mesmo assim ela sente saudades. Talvez seja um sentimento diferente, saudade com sentimento de culpa, posse perdida, saudade com raiva ou desrespeito, sei lá.

                Meu pai deve estar furibumdo, não? Tem um valor expressivo tremendo, não? Se não tem pelo menos é bastante ridículo, e o ridículo deve ser aproveitado, caso contrário o que seria da Estátua da Liberdade, ou o túmulo do Lenine?), o velho deve estar xigando até a minha décima geração(excluindo ele mesmo, é claro). Até hoje ele não enetendeu que eu não aguentaria por muito tempo. Nem poderia. Afinal eu sou um homem jovem, lúcido e quero fazer coisas a bessa ainda por ai. Não poderia continuar dormindo com uma mulher que não me inspirava o mínimo desejo, nem o desejo de ter uma coleção de casas: a oficial e as sucursais. Nem tão pouco sou do tipo que completa na rua o que lhe falta; azar o deles, ou azar o meu. Pelo menos sei que tentei.

 

 

                o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o

 

 

                = 15 =

 

 

                                                                                                                                                             ( 22 ....)

 

 

 

                Consegui organizar um grupo mais ou menos homogênio de fugitivos. Depois de muits conversar, resolvemos que a reunião seria talvez a única possibilidade de salvação. Por ser o mais velho, muitos me ouvem, mesmo quando prego sobre a verdade.

                Espero que alcancemos a floresta dentro de alguns dias, pois o ar torna-se cada vez mais irrespirável, mesmo aqui, na planície, apesar dos arbustos e pequenas árvores. Os minúsculos bosques que nos tem ajudado tanto, parece que também vão morrendo conosco. Já não os encontramos tão verdes e viçosos como antes.

 

                                                                                                                                                             15 de junho

 

                Chegamos à região, onde parece começar realmente a floresta amazônica. Há maior número de árvores, a vegetação é mais densa. Já não encontramos tantos cadáveres de animais espalhados por onde passamos. E o ar é bastante respirável.

                Nosso grupo está ficando muito grande.Suponho que nos seguem alguns bastante doentes, cerca de duas mil pessoas. Sinto-me como um novo Moisés, num novo exôdo. Apenas não estou guardando um povo, mas brancos, morenos, pretos, amarelos,gente branca de toda espécie.

                Apesar da multidão, não ha nela nenhum dos amigos ou conhecidos de antes da catástrofe. Todos parece que se perderam, ou fazem parte de outros grupos que conseguiram fugir. Eu por exemplo consegui levar meu carrinho até a fronteira com Minas Gerais, até que eu não pudesse mais seguir, pois as estradas estavam congestionadas.

                Consegui, depois, uma carona de um dos ultimos aparelhos que voavam, da força aérea. Um comandante compreensivo encheu seu veículo aéreo de refugiados e nos trouxe até onde lhe restou combustível, na confusão da fuga nos perdemos dele e da tripulação. Queira Deus que ele também tenha conseguido alcançar a floresta, a salvo.

 

                                                                                                                                                             25 de junho

 

 

                Tenho tido muitos pesadelos. Estamos agora no meio da floresta, alguns adoeceram. São, muitos deles, homens e mulheres da cidade sem constituição física necessária à vida na selva. Há médicos entre nós, mas pouco podem fazer, pois lhe falta remédios para todos. Continuamos a caminhar, apesar dos perigos. Ninguém quer se arriscar a falta de oxigênio, quem embora pareça tão farto, pode também rarear, tão perto estamos da orla da floresta amazônica. A caminhada continua, então com descansos periódicos e paradas para provimentos, tendo sido organizado grupos de caça(muitos trouxeram armas, alguns mesmo aparelhagem para o fabrico de cartuchos. Parece que há ainda bastante pólvora e munição) e grupos para o aprivisionamento de agua. Ha um grupo encarregado do transporte de galões do líquido, que talzes seja - e nada podemos fazer quanto a isso, por enquanto - o causador das febres que começam a aparecer.

                Não consigo esquecer, em meus sonhos, dos campos de cultivo que deixamos para trás, qualados de cadáveres de seres humanos e animais. De outras vezes sonhamos alguns de nós com o pânico nas cidades, quando dos primeiros momentos da crise.

                Alguns sonham, as noites com as multidões enlouquecidas correndo pelas ruas, pisoteando-se, os automóveis atravancando-se pelas ruas, piorando a situação. Nosso grupo parece uma reunião de seres mio-loucos, provavelmente, se sobreviverem, atormentados por suas lembranças. Pouco há, entre nós, que não tenha perdido algum familiar ou mesmo todos, à fuga, não é comum encontrarmos no grupo familias completas ou  mesmo casai, pai e filho, etc. Quase todos se reuniram a nós sozinhos, dependendo de suas capacidades de resitência.

 

 

                                                                                                                                                             1 de agosto

 

                Continua a caminhada, cada vez mais lenta. Procuramos agora, um bom local para acamparmos. Parece difícil. O grupo está, agora, muito grande, talvez dez vezes maior do que antes. Porém, a medida que aumenta, muitos são abatidos pelas doenças, e são deixados para trás. Aprendemos as duras penas, que parar pode significar a morte de todos, e ignoramos o destino dos companheiros que ficam. Vou parar de escrever, pois a caminhada vai continuar.

 

                                                                                                                                                             15 de agosto.

 

 

                Encontramos o que parece ser a região ideal. É uma espécie de pequeno planalto, ainda coberto pela floeresta virgem, execelente para nos proteger das possíveis inundações comuns à região, perto de uma série de pequenas lareiras , onde todos conseguirão erguer algum abrigo. Há alguma agua em abundância, pois diversas fontes foram encontradas. A àgua dos igarapés abundantes na região, tem-nos parecido pergigosa, e temos evitado, sempre que possível, bebê-la. Outro motivo da escolha deste local, foi o encontro de caça abundante e fácil. Também encontrou-se o que parece ser enxofre, útil na fabricação de pólvora. Falta apenas salitre, pois carvão é fácil de conseguir. Todos estão procurando construir toscos abrigos. Estou tentando criar uma organização de controle do grupo, selecionando o que parecem com possibilidade de liderança, e distribuindo-lhes missões e tarefas de controle e organização.

 

 

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                = 10 =

 

 

                                                                                                                                                             ( 19 ....)

 

                Pai.

 

                Quero convidá-lo para o Batismo de Maria Lúcia, que já tem quase um ano, como deve ter calculado.

                Vivo com Lídia há mais de três anos, o que parece demonstrar a solidez de nossa união e talvez possa apagar as últimas dúvidas que possam pairar sobre os tumultuados fatos de minha união com Lídia, há três anos.

                Passado tanto tempo, pai, gostaria que nos perdoássemos mutuamente, e voltássemos a ser os bons amigos que já fomos. Tudo tem seu tempo: tempo para brigar e tempo para fazer as pazes. Acho que o tempo de paz é chegado. Não falte, pai, sua primeira neta o espera. Um abraço do filho

 

                                                                                                              Augusto

 

 

                o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o

 

                = 16 =

 

( 22.....)

 

 

                                                                                                                                                             30 de agosto

 

                Nosso pouso já parece uma pequena cidade primitiva. Ha uma imensidão de pequenas cabanas, ocupadas por grupos, mais ou menos como nós, os lideres determinamos.

 

 

                                                                                                                                                             1 de setembro

 

                Pelos meus conselhos que bem ou mal sempre surtiram efeito, fui eleito lider dos refugiados. parece que não há transmissões de espécie alguma, do mundo inteiro. Há alguns rádios portáteis, que alguns, apesar da pressa, lembraram de trazer, possivelmente esquecidos nos bolsos. Nada conseguimos captar, a princípio. Temendo ser um problema de antena, um dos rapazes escalou uma grande árvore, que por sinal ficava no alto de uma pequena elevação, lá do alto, tentou captar alguma estação em ondas curtas. Todas as faixas foram experimentadas e pareceu estática. Nada mais. Teria a vida acabado no resto do planeta? Não podemos saber. A lógica nos diz que há outros grupos que conseguiram alcançar a floresta, se bem mais ao norte a coisa estava bem pior, pois as cidades do nordeste começaram a sofrer primeiro a contaminação. Alguns ficaram mesmo temerosos de nossa morte; pois sabiam que, paradoxalmente, as cidades ribeirinhas do Amazonas e outros grandes rios, também sofreram do mal, inclusive primeiro do que as outras pessoas. Poucos, aliás consegui explicar o fenômeno, e mesmo a nossa salvação. Parece que, por algum motivo geológico com o qual não atinamos, há um bolsão de ar que se renova, nesta região que nos escolheu. Sabíamos que a floresta não era inteiramente desabitada, porém não encontramos, por enquanto, nenhum vivo, seja um índio, seja um dos sertanejos da amazônia. Mistério que um dia talvez, possamos resolver.

 

 

                                                                                                                                                             20 de outubro

 

                Já não tenho muito tempo para escrever, pois minhas atribulações como o chefe de grupo toma-me todo o tempo, desde que acordo até que durmo. Estamos tentando organizar um novo meio de vida. Encontrei pessoas que ouviram e receberam bem as novas idéias do Augusto, que lhes contei. Parece que todos concordam que a nova sociedade que agora fundamos deve ser moldada pelas idéias do Mestre. Já que possivelmente somos os últimos sobreviventes da catástrofe é preciso que organizemos de forma a evitar a repetição de tudo. Vamos procurar uma organização social que  proporcione segurança, paz e, principalmente, evite a possibilidade de novas explosões demográficas, além de evitar o processo técnico científico desenfreado. Possivelmente faremos a seleção do realmente utilitário e inofensivo. Amanhã será a primeira reunião de nosso Grupo de Controle como o chamamos, por falta de outro nome.

 

 

                                                                                                                                             21 de janeiro de 2232

 

                Não vejo mais necessidade de escrever este diário. Como sei porém, que ele se transformara de diário pessoal em livro de estudos, no futuro, pelos descendentes de nossa civilização, resolvi apenas terminá-lo hoje, primeiramente porque estou escrevendo o livro que perpetua as Normas e Regras, e estabelece uma Tradição, para ser zelada pelas outras gerações. Além do mais, ainda não conseguimos fazer o papel de fibras que falam tanto, e tenho apenas outro caderno, que este se acaba.

                Somos agora uma sociedade organizada. Todas as normas e regras foram discutidas. Procurou-se respeitar as idéias do Augusto, sempre bem aceitas, principalmente depois da catástrofe que se abateu sobre a humanidade. Ninguém discorda, assim, das idéias do Mestre, principalmente agora que ensinei a muitos como se processa a concentração e relaxamento necessário a ouvir, em nossa mente, as comunicações do mestre, simplesmente. Todos agora sabem que ele está verdadeiramente vivo, espalhado pelo Cosmos; todos agora sabem que na verdade não se morre, que a vida continua no Cosmos. A catástrofe ao final de contas veio a favorecer a nós, vivos, pois que ha muito mais cósmica espalhada ao nosso redor, podemos facilmente percebê-la em nossos exercícios de concentração e percepção. Porém como nem todos os que se foram eram evoluídos como o Augusto, dificilmente conseguimos a comunicação com outro ser transformado em Energia. Isso fez com que todos acreditassem realmente ser o Augusto o ser enviado pelo Supremo para coordenar o que sobrou da humanidade. E resolvemos reorganizar a sociedade de acordo com seus ensinamentos.

                Resolvemos que não haverá mais a estrutura familiar antigamente existente na sociedade. Resolvemos que todos terão vidas individuais sem nenhuma preponderância de um sobre o outro, seja homem ou criança. Concordamos que as crianças são seres completos, apenas não crescidos, e a elas não será dado o tratamento inferior da sociedade anterior. As mulheres farão o serviços necessários, desde que consigam. Não haverá casais, sob hipótese alguma, principalmente porque o número de mulheres é muito reduzido, e também porque desejamos manter um controle de nascimentos eficiente e severo. As mulheres e homens serão obrigados a tomar ervas anticoncepcionais que recebemos do grupo de selvagens que encontramos na semana passada; e são eficientíssimas, muito mais seguro que os mais modernos anticoncepcionais da antiga ciência. (por incrível que possa parecer, o grupo de selvagens integrou-se docilmente ao nosso grupo. Estão tendo dificuldade de assimilação das linguas, principalmente que há três idiomas em nosso grupo: português, espanhol e inglês, esses dois ultimos constituindo a maioria conhecida, pois muitos que falavam Português também conhecem o inglês. Aliás, a melhor maneira de comunicação entre nosso grupo tem sido uma mistura das mais conhecidas palavras dos três idiomas, conhecidas por quase todos, o que não faz de nós exatamente uma Babel, pois todos tem a compreensão perfeita do que vivemos, e esforçam-se para prender depressa).

                Resolvemos que não haverá tecnologia supérflua, mesmo quando atingirmos estágios superiores de civilização, para isso incluiremos dispositivos nas Regras e Normas que o impeçam. Não haverá meios mecânicos de locomoção, não haverá meios artificiais de comunicação; não haverá meios de divertimento pois o trabalho será nossa característica de sobrevivência(todos acreditamos que a luta do lazer foi uma das causas da destruição da antiga civilização). Não contribuiremos para progressos científicos e tecnológicos desnecessários. Plantaremos o mínimo possível e viveremos de vegetais e minerais, o mínimo de alimentos animais possível, pois não desejamos, como a antiga civilização destruir a fauna sobrevivente(por isso a necessidade de manter estacionária a população).

                Resolvemos também que todos tem direitos iguais, porém possuem características e possibilidades diferentes. Resolvemos assim dividir a sociedade em grupos de valor iguais, para um deles produzir alimentos, o outro distribuí-lo. Como manutenção das idéias do Augusto é muito mais importante para a sobrevivência do nosso grupo, criarmos a classe que chamamos de Sacerdotes, por falta de outro nome. Na verdade, são as pessoas mais bem dotadas da capacidade supra-conscientes, que auxiliarão as outras constantemente. Independente desses grupos, criamos dois outros grupos a parte, de pessoas que serão treinadas para a proteção do grupo contra os perigos do ambiente, por mais fortes que sejam e os chamaremos de guerreiros, também na falta de outro nome. Dentre os diversos grupos, as pessoas que possuem capacidade de liderança, constituirão o grupo dos “políticos”, isto é, os que contribuirão para a manutenção da ordem social. Como nosso princípio de liberdade é fundamental, qualquer pessoa que possua as necessárias qualificações físicas ou psicológicas poderá candidatar-se a sacerdote, político ou guerreiro, sem prejuízo das funções, acumulando, inclusive, vários cargosm pois embora grande o grupo, não somos tão numerosos que possamos manter rígidas as divisões.

                Como nosso grupo organizador estipulou mais ou menos arbitrariamente essas normas, e como todos somos unânimes em disseminar pelo grupo as idéias do Augusto, temos sido chamados pelo povo de Dissiminadores, o que parece adotarei ao escrever as Regras e Normas.

                Agora um pouco de vida prática: as pessoas tornam-se diferentes, depois da catástrofe. A maioria mantém-se apática, sem sentimentos visíveis. Embora todos cumpram as missões que lhe são dadas, fazem-nas friamente, sem satisfação ou descontentamento. Inclusive, quando ha alguma morte, ninguém parece mais sentí-la como antes: o ser humano habitua-se a tudo. Embora isso seja útil a manutenção do grupo, pois evita maiores problemas; parecem todos um grupo de zumbis ou autômatos. Não há grupos de amigos, confraternizações, conversas. Todos parecem ainda temer, de um momento para o outro a falta de oxigênio novamente, e com ela a morte para todos. Tornando-os seres frios, como a maioria dos que sofrem tragédias.

                Estamos construindo pequenas habitações de pedra, abundante na região. Todas são coletivas. Ninguém, de comum acordo, possui qualquer das habitações , usando-as quando as desejam. Aliás, ainda ha muito poucas, e algumas delas continuam; mas ha o medo de devastar demasiado a floresta, e com isso a falta de ar, outra vez. A propriedade particular parece ter desaparecido, principalmente porque há pouquíssimos objetos de uso, e os que há, todos necessitam deles, até as vestes são divididas, conforme as necessidades de trabalho, na contrução, obtenção de alimentos, caça, etc.

                Outra observação a ser feita, o desejo sexual parece ter arrefeicido bastante, neste nosso grupo de foragidos que reconstroem a civilização. Poucos são os que praticam o ato sexual, e quando o fazem não é com a frequência de antes.

                Os mais exaltados, quase sem ordens dos Discriminadores, dedicam-se naturalmente a Caça e ao ensino dos menos afortunados.

                Preciso terminar o diário, pois me restam apenas algum espaço, já estou escrevendo na capa externa do caderno. Desejo acrescentar apenas que fizemos uma recontagem do nosso povo(já podemos chamá-lo assim). Somos exatamente doze mil, trezentas e vinte três pessoas, distribuídas em oito mil, quatrocentos e dezessete homens e três mil, novecentas e seis mulheres, ambos os sexos com elementos de todas as idades. São cerca de cinco horas do dia 21 de janeiro de 2232.

 

                o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o  o    o  o  o  o  o  o  o

 

               

                Meu filho é um canalha, sei disso.

                De qualquer maneira, estou feliz.

                Tenho minha música e meus livros.

                Aprendi que viver é ser feliz no INTERIOR.

                Assim, não me importa Augusto e sua estupidez.

                Estudei um pouco de ocultismo e não acho que seja a solução para os problemas do mundo, a única boa lição que tive do ocultismo na verdade eu já possuia dentro de mim. A de que meu mundo inteiro é o que interessa.

                Se eu for depender das mulheres que tive, de meu filho, de meus negócios, estou frito!

                Aprendi que não importa o que me façam, mas o que penso, em mim.

                Posso viver na sarjeta, com um pedaço de pão que terei as estrelas, os mares e os ventos - e isto basta a qualquer um que tenha o Deus em seu coração!

                Encontrei Deus,

                NÃO SEI BEM DEFINÍ-LO, MAS SEI QUE ESTÁ DENTRO DE MIM!

                ELE ME BASTA,

                Aprendi a deixar de ser egocêntrico e aprendi a ser egoísta.

 

                Destrui muito meu corpo e sei que ele não resistirá muito.

                Espero que a morte não seja demorada, mas rápida e pura.

                Não sei se sobreviverei à morte.

                Não acredito em reencarcação, mas sei que se pode continuar de alguma forma.

                Mas, mesmo que eu não continue, a satisfação de ter encontrado o Deus dentro de mim, de aprender a viver para representá-lo aqui fora, é recompensa suficiente para mim.

                Agora sei que resta apenas ao Homem viver para Deus, dentro dele.

                Mas o problema dos homens é que vivem para si mesmos, para seus vícios e suas coisas materiais. Vivem para suas próprias vidas, para seus pais, filhos, mulheres, uns traindo aos outros, chantageando-se mutuamente. Essa a nossa “vida social”. Sodoma destrutível!

                Não há solução para a pessoa humana apenas no mundo material.

                O homem tem de, individualmente, aprender que só vive para que o Deus dentro dele seja pleno e feliz, vivo no mundo objetivo, o Mundo de Deus, para isso criado, e não para que sua personalidade seja feliz.

                Ele tem consciência para que Deus tenha consciência através dele - porque Deus, em si, não tem a consciência que um de nós a tem. Sua consciência *************** dizer, automática, matemática. A criação se faz inevitavelmente, apenas como pode e tem de ser e não programada conscientemente, como se pode pensar. E muito menos é fruto do acaso, mas de uma “vontade não consciente, mas partida de um Deus (porque deus não tem consciência. Se Deus tivesse consciência - ao menos a NOSSA consciência. Se Deus tivesse a nossa consciência, porque faria, então, a nossa consciência? Se ele tivesse a nossa consciência, não precisaria da nossa, não precisaria criá-la! Se Deus tivesse algum tipo de vida objetiva, porque nos faria no mundo objetivo?

                A verdade é que eu vivo para fazer o Deus dentro de mim ter consciência e sentir-se existente através de mim. Por isso, é minha obrigação viver feliz, pleno de poder, para Ele ser feliz e exercer seu poder. E eu o faço agora!

                Pena que destruí muito meu ser e as consequências disso são inevitáveis, estou muito velho e não sei mudar isso.

                Falta-me mais conhecimento.

                Apenas achei o Deus dentro de mim, não me tornei ele, ainda.

                Só o represento, não sou um avatar.

                De qualquer forma tentarei ensinar isso a todos os meus.

                Se não aprenderem, não é problema meu!

 

 

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                ( 19 .....)

 

                Hoje faz quinze anos desde que casei-me com Nídia. Quinze anos de vida comum. Muitos problemas, vida dura, momentos felizes. Espero que todos os que assistiram nossa união, naqueles momentos complexos de nossas vidas, tenham entendido que não estávamos, então, simplesmente brincando. E não estávamos.

                Temos nossa filha, nossa querida Maria Lúcia, hoje estudando o último ano da faculdade. Ela sempre foi muito precoce. Parece que vai ser uma grande professora.

                Semana passada consegui comprar o apartamento, com o dinheiro que consegui salvar da venda apressada do curso. Depois de doze anos de luta judicial, perdi o despejo. O curso acabou.

                Estou alugando uma sala no centro, na cinelândia, para começar uma espécie de curso de inglês, algo assim. Preciso manter nossa subsistência, custe o que custar.

                Hoje, neste dia em que completamos quinze anos de vida comum, estive observando mais detidamente a pessoa que hoje é Nidia. Aquela moreninha delicada e frágil, linda, tornou-se uma mulher de formas opulentas, forte, sólida, mais ainda agradável à vista. Sua personalidade, moldada pelas dificuldades, tornou-se segura e prática. Nídia é a gerente impecável dessa organizaçãoque é o nosso lar. Não teria condições para a vida sem o amparo conjugal de uma mulher. Por isso preciso e sempre precisei de Nídia. A qualquer preço.

                Se bem que já tivemos muitos problemas, Nidia tem um genio muito forte e eu preciso controlá-la com mão de ferro, o que se torna, às vezes, um pouco cansativo.

                Temos um menino, que ela chamou de Augusto, também, (Augustinho, para os íntimos!) Ele se parece mais com ela, mas são coisas da vida...

                Sendo hoje um dia especial, estive pensando em muitas coisas que antes pareciam muito tolas. O Ribeiro, meu antigo mecânico das máquinas de escrever do curso, esteve conversando comigo sobre o centro espírita que vem frequentando.

                - É uma coisa muito bonita, professor! - disse-me ele com sua voz baixa, sussurrante. Ribeiro fala como se estivesse contando um segredo de estado muito importante...

                - O senhor não imagina...

                Nesses quarenta e cinco anos de vida a religião não tem sido uma constante em meus dias. Sou católico, aparentemente praticante, mas por dentro todo aquele ritual não me atinge. Mas nesses últimos dias uma espécie de curiosidade tem comichado meu cérebro. Lembro-me de haver combinado com Ribeiro:

                - Um dia a gente aparece lá, em seu centro.

                - Venha mesmo professor. Essa história da justiça tomando o prédio, o senhor fechando o curso, sei não... pode ser coisa feita por alguém... Quem sabe a...

                - Deixa isso para lá, rapaz, já faz muito tempo.

                - Ela não esqueceu, seu Augusto...

                - Que é que eu posso fazer? Respondi-lhe.

                Ribeiro é uma figura quase pertencente a familia. Aquele tipo de empregado que ultrapassa a esfera puramente profissional e passa ao escalão dos amigos, sem, no entanto, tornar-se íntimo ou desagradável. Ribeiro cuidou das máquinas do curso, como herança, depois do fechamento do último colégio de meu pai. Bom profissional, competente, um pedacinho de homem de metro e cinquenta e cinco, a cara comprida e com a inelutável cabeça chata dos filhos do nordeste. Mas um boa-praça.

                Em todo caso o senhor deveria falar com os guias, seu Augusto. Não custa nada...

 

 

                Fiquei com aquilo na cabeça. Realmente não custava nada. Um dia desse tomo coragem e vou até lá, é claro, apenas para pesquisar o assunto, sem pretenções a cliente sofredor, lógico.

                De qualquer forma, estou sentindo que preciso pensar um pouco mais nisso tudo: minha vida, todo o que fiz de bom e de mau, a finalidade de minha existência, meus antigos conflitos com meu pai, essa minha sede insaciável por mulheres que sempre me dominou...

                A faculdade de direito em nada ajudou minhas dúvidas sobre o direito e justiça. Pelo contrário, nos poucos tempos em que exerci a profissão, especializei-me em fazedor de desquites e casamentos no exterior, a experiência da faculdade de medicina feita “nas coxas”, nada acrescentou aos meus problemas. Pelo contrário, é apenas mais um diploma para o meu currículo.

                Para complicar, o professor Moacir, ao se despedir de mim, quando do fechamento do curso, comovido deu-me o que chamou de “presente sem preço”, uma proposta de ingresso a uma espécie de sociedade misteriosa, algo assim como cruz e rosas, pedindo que eu pensasse no assunto. Acho que vou enviar o impresso e ver o que acontece. Até que pode ser alguma coisa interessante, pelo menos um pouco de diversão para essa vida de tédio e cansado de simples viver.

                Se Nídia soubesse desses pensamentos, acharia que eu sou maluco, ou aproximando-se disso. E talvez tenha razão. Onde já se viu um homem maduro como eu, um quarentão boa pinta, pensando em se envolver com essas histórias de espiritismo, assossiações místicas, veja só. Deve ser a velhice chegando...

 

 

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                Acho que estou pagando o que fiz.

                Na época, não achava. Aliás, não entendo direito porque estou pagando.

                Eu dei tudo de mim ao homem que escolhi. Fui leal(isto é, um pouco: houve o caso do Lluiz, mas isso não conta: era um colega de escola que apareceu derrepente... Isso acontece. E o fato de o Augustinho não ser filho do pai, isto é não do pai que ele acha que é... bem, você sabe!)

                Mas eu fui uma boa dona de casa. Cuidei de todos, trabalhei todos os dias, desde manhazinha até a noitinha.

                Alimentei todo mundo, cuidei dele, fui uma boa mãe, dei as palmadas necessárias... Na verdade não sou tão ruim assim.

                E verdade, Augusto me envia uma pensão ha mais de vinte anos, mas todo mundo não faz isso? E não é a lei? Se ele casou comigo, tem mais é de pagar, quando acaba. Ainda que eu tenha lá colocado uns dois ou três cones em cima dele... Mas isso não tem nada a ver, não acha?

                Porque Deus me castiga assim?

                Minhas costas pegam fogo. Dentro de mim um punhal se retorce em meu fígado, e sinto que o ar me falta.

                Estou sufocando!

                Meu Deus, este sofrimento, lento, muito lento(estou doente, que eu me lembre, ha mais de dez anos e a cada dia é pior!) é um inferno eterno! Meu Deus, porque? Eu não sou tão ruim assim! Tem muita gente pior que eu, ou não tem? Afinal, nunca matei, nunca roubei, nunca agredi ninguém!

                A respiração me falta.

                Gasto quase tudo que Augusto me envia com médicos, remédios e ainda falta.

                Estou só.

                Augustinho foi embora, bêbado, com a cara cheia de cocaína. Talvez consiga fugir dos policiais. Afinal, ele matou o colega que o traiu e o entregou, ele não tem culpa, só se defendeu!

                Augusto está longe com sua tolice de parapsicologia...

                Por trás daquela santidade toda tem só sem-vergonhonhice.

                Meu Deus!

                Que dor!

                Não consigo respirar!

                Não consigo respir...

 

 

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                Recebi a notícia durante uma conferência.

                Foi uma pena. Ela era uma boa pessoa. Meio louca, mas boa pessoa.

                Ao menos não pago mais pensão. Mas vai dar um trabalho enorme avisar o juíz que não deve mais descontar de meu contra-cheque...

                É, ela não era lá uma pessoa muito má.

                Pena que nunca entendeu meu trabalho.

                Eu tenho que pesquisar para aprender a verdade.

                Ela tem de existir.

                Pesquisar, pesquisar, sempre!

 

 

                               = 17 =

 

 

                                                                                                                                             ( 22 ....)

 

 

                                                                                                              Nova Iorque, 20 de maio de 2231

 

                Querida Luiza:

 

                Talvez quando você receber esta carta, (se receber) ninguém esteja vivo nesta maldita cidade. Os jornais e a TV, por aí devem estar noticiando tudo, mas eu lhe conto o que vi, com meus próprios olhos.

                Você sabe que eu não moro em Manhattan, e sim nas adjacências da antiga megalópole, em N. Jersei. Talvez por isso ainda estou viva escrevendo tendo no rosto uma máscara de oxigênio ligada a um reservatório, dos três que o Mario conseguiu com os Homens do serviço de atendimento. Infelizmente esses reservatórios estão ficando cada vez mais difíceis, pois não existem para todos. Felizmente não precisamos usá-los durante todo o tempo, pois há períodos em que o ar se torna resspirável.

                Apesar de tudo, ha uma certa beleza em tudo isso. À noite, durante certas horas, vê-se no ar fosforecência belíssima das noites de São João, aqueles prateados que você tanto gostava.

                Os cientistas da Nasa trabalham dia e noite para descobrir um método efetivo de descontaminação do oxigênio que tanto necessitamos, mas, enquanto isso, os átomos vão se queimando, numa reação contínua e sem fim. Queira Deus que aí issonão chegue tão depressa, para que haja tempo para eles descobrirem o remédio e salvar ao menos nosso continente Sul Americano e com ele o Brasil.

                Porque aqui não ha reservatórios para todos, e basta ser apanhado sem o reservatorio durante uma das crises e a morte sobrevém em minutos por sufocamento. As pessoas com problemas respiratórios e cardíacos, não tem chance de sobrevivência.

                O centro de Nova York está praticamente morto. Em Manhattanm não houve muito tempo para socorrer com reservas de oxigênio muitas pessoas, principalmente porque ali a reação procedeu-se de maneira mais rápida, além, do que os gazes de poluição normalmente cobrindo a cidade auxiliaram rapidamente a eliminação dos moradores da cidade.

                As notícias chegadas de todo o país mostram que, de costa a costa acontece o mesmo. Fica apenas melhor um pouco, dizem, perto dos bosques e florestas(que são muito poucas, você sabe) onde o ar é purificado pelas plantas, porém é logo queimado pela reação.

                Tenho esperanças por nossa terra pois aí ainda ha verde, e pode ser a salvação de vocês.

                No oceano, então, é catastrófico. Não há, praticamente navegação, pois ao nível do mar a reação é constante.

                Tenho que terminar, querida. Mario resiste bem a tudo, sempre ao meu lado. Estamos decidindo para onde iremos(pois temos de ir a algum lugar), o que lhe diremos assim que acontecer. Beijos nas crianças, e que Deus nos ajude a todos.

 

                                                                                              Beijos de saudades da

                                                                                                              Marcia.

 

 

 

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                                               = 13 =

 

                ( 19 ....)

 

                A porta de entrada do instituto de Pesquisas Parapsicológicas era de vidro com caixilhos de alumínio. Dentro um ar condicionado silencioso mantinha um clima de montanha um oasis de frescura no forno que era o Rio de Janeiro naquele verão de 1970.

                O visitante que seguisse o curto corredor, desembocaria numa sala de atendimento bem iluminada, onde uma secretária sorridente atendia o público, recebia as mensalidades dos alunos, dava informações sobre os cursos que o professor Augusto ministrava: Relações Humanas, parapsicologia, Metafísica e esporadicamente Hipnotismo, Pesquisa Aplicada em Metafísica, etc. Pelas paredes um retrato de Nefertiti, a rainha de Aknaton, o faró monoteísta do Egito Antigo. Retratos de formaturas, um currículo onde se lia que o professor Augusto era licenciado em Inglês, bacharel de Direito, formado em Medicina, doutor em psicologia, além de uma grande quantidade de cursos e aperfeiçoamentos de diversas disciplinas, cursos de parapsicologia em universidades da America, um vasto currículo, que em geral impressionava o visitante. Se esse visitante fosse mais curioso, poderia ver em outros quadros os recortes de revistas e jornais onde aparecem entrevistas dadas pelo professor, referências, participações em congressos de parapsicologia, uma infinidade de indicações que o professor era conhecedor de sua especialidade.

                Naquele dia, se o visitante caminhasse até a sala de aulas que, à portas fechadas, ficava a direita da secretaria, encontraria um grupo de pessoas assistindo a uma seção de hipnotismo, o professor atuando sobre uma pessoa que se deitava sobre uma poltrona comprida, dessas em que se relaxa o corpo inteiro e um gravador de rolo que guardava na fita magnética o diálogo estranho.

                - Agora você está recuando mais ainda no tempo. Mais longe... Você está no espaço, muito antes da fecundação. Você está aonde?

                - Não sei direito... - a voz do paciente era sussurrante, muito baixa. Mal mexia os lábios, o resto do corpo inteiro imóvel. Estou num lugar muito bom, não sinto nada...

                - Muito bem, você vai voltar mais ainda, dez, vinte, cem anos. Onde você está agora?

                - Y d’ont know. I’m a children.

                - Fale em português. Você pode falar em português, se assim o desejar. E você deseja falar em português, para que todos possamos entender, não é?

                - Sim

                - Diga quem é você.

                - Eu sou Dyana.

                - Minha irmanzinhã.

                - Como é a casa onde você mora?

                - Ah, minha casa é muito feia. Minha mãe passa o dia inteiro carregando sacos enormes de carvão e eu ajudo a ela.

                - E o seu pai?

                - Eu não tenho pai.

                - Quantos anos você tem?

                - Não sei.

                O professor volta-se para os assistentes-alunos:

                - Vamos voltar um pouco ao futuro. Você não mais é uma menininha, já se passaram dez anos. Onde você está?

                - I’m in a club.

                - Fale em português, por favor.

                - Estou numa casa de danças.

                - O que você está fazendo aí?

                - Eu trabalho aqui. Danço com os clientes, faço com que eles bebam, e depois arranjo um deles para vir comigo.

                - Você é prostituta?

                - Não exatamente. Tenho homens de vez em quando, mas não sou uma profissional.

                - que cidade é essa onde você vive?

                - Londres.

                - Em que ano você está?

                - Em 1872.

                - Alçaremos uma vida anterior, finalmente - diz o professor Augusto dirigindo-se aos alunos.

                - Como é seu nome todo?

                - Margaret Duncan.

                - Só isso?

                - Só.

                Os alunos assistem em completo silêncio. O professor continuou o interrogatório, anota os dados sobre locais e situações que poderiam ser mais tarde confirmados. A fita continuava a gravar.

 

 

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                Na verdade não tenho poder algum.

                Meu alunos acham que eu tenho e eu deixo que eles pensem assim. É mais prático. Eles não entenderiam mesmo...

                Na verdade reconheço que ainda não tenho certeza de muita coisa. Há conteúdos inevitáveis, mas eu não consigo, como deveria, manipular meu mundo exterior.

                Não posso, continuar fazendo tolices, engraçando-me com todas as mulheres que me aparecem. Sei que é errado, mas não tenho poder algum sobre mim mesmo.

                Espero que meus alunos nunca descubram isso...

 

                               = 18 =

 

                                                                                                                                                             ( 22 ....)

 

 

                                               JUNEAU - CANADÁ - (UPI - USAPRESS)   12 08 2231

 

                Levas de refugiados atravancam as entradas com destino ao interior do país, mais precisamente as florestas do norte.

 

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                                                                                                              BEIRUT - LÍBANO - Sexta-feira

 

                Caravanas dirigem-se às florestas. Às  noites, o céu tem-se iluminado com uma fosforecência azulada de grande beleza. Aqui o ar ainda é inteiramente respirável, principalmente fora das cidades.

 

 

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                                                               A MAIOR INVERSÃO TÉRMICA ATÉ HOJE EM SÃO PAULO

 

 

                O ar na capital torna-se, pouco a pouco quase irrespirável. No vale do Anhangabaú a confusão é total. Centenas de veículos abandonados, muitos mantendo ainda os faróis acesos e motores funcionando, atravancam as pistas.

                As autoridades solicitam às pessoas que se mantenham em suas casas.

 

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                TERESINA, PIAUI: Pesquisadores avançados da universidade federal de Teresina Piauí, estudando as condições do plâncton, descobriram o principal motivo da rarefação do ar. A poluição marítima produziu um micro-organismo de violenta autocriação que tem a propriedade de destruir as espécies vegetais marítimas , acima de tudo o plancton, além de cobrir a superfície do mar com uma camada vítrea, trasparente, de matéria orgânica, impedindo, inclusive, a evaporação das aguas do mar. Por isso, a cada vez mais baixa umidade do ar e a falta de nuvens e chuva. A camada de micro-organismos cresceu a um ponto incontrolável e a recomposição do oxigênio se faz a cada minuto menor, provocando a rarefação do ar respirável.

                Junto com a poluição do ar, as inversões térmicas, etc, a vida se torna cada vez mais difícil.

                Os pesquisadores piauienses sugerem que as pessoas se aproximem, o mais depressa possível de bosques e florestas, onde pode haver uma maior concentração de oxigênio e se afastarem as grandes cidades, onde o ar tenta se tornar mais rarefeito. Motores a explosão devem ser evitados, principalmente de veículos automotores, automóveis, caminhões, etc.

 

 

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O “AMANHÔ INFORMA EM EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA

 

                Fenômenos de inversão térmica estão acontecendo estranhamente nas principais cidades do pais. Nossas geradoras do Rio e São Paulo estão sem contato com a TV Itacolomi que está gerando a título precário, som e imagem para Belo Horizonte. Na cidade tudo continua normal, sem maiores novidades. Novas notícias do resto do país a qualquer momento

 

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ATENÇÃO TODOS OS CARROS: ATENÇÃO TODOS OS CARROS

 

                Os patrulheiros devem abandonar seus veículos e prestar socorro imediato à população. Para isso devem recolher os aparelhos de oxigênio que serão entregues em hilocoptero da força nos seguintes pontos de encontro....

 

 

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                                                                                                              ORDEM DE SERVIÇO 223/A

               

                Os saqueadores devem ser executados em flagrante, desde que isso não perturbe o auxílio prestado à população. Médicos e enfermeiras, grupos de auxílio tem prioridade sobre tudo mais.

 

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                = 12 =

 

 

                                                                                                                                             ( 19 ....)

 

 

1956

 

                - Venha depressa, teu pai está morrendo!

                Mal teve tempo de acabar de engolir o café as pressas, toma o carro e dispara em direção ao subúrbio distante onde morava o pai. A distância era muito grande, não teve tempo de encontrar o velho com vida.

                - Congestão pulmonar - disseram. Não sofreu. Morreu inconsciente.

                Cuidou do enterro pesaroso. A perda do pai era uma surpresa, mas não o atingia tanto quanto as outras pessoas esperavam. Suas experiências pessoais davam-lhe a certeza de que a morte não era um fim, mas uma transformação. Sentia apenas a precose falta do grande amigo que se fora.

                Depois que todos sairam, iniciou a mexer nos papéis do velho. Para sua surpresa, descobriu que ele, em seus últimos anos, também estivera pesquisando em “ciências ocultas, misticismo”, etc.

                Encontrou um papel amarelado, batido a máquina. Parecia anotações oou conclusões sobre seus estudos. Conceitos ainda pouco ingênuos, fruto de leituras e não de pesquisas, mas com um certo valor.

                Leu as primeiras linhas, os olhos começando a ficar molhados.

 

 

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                Fez todas as pesquisas possíveis em busca do espírito do pai.

                Houve muitos médiuns que “incorporaram” o pai, mas era ou tolice ou viagem sem sentido.

                Nunca encontrou prova alguma de coisa alguma do mundo esoísta em que vivia. Espíritos, reencarnação tudo suposição, nenhuma verdade.

                Tinha de reconhecer que ainda sabia.

                Mas tinha de continuar ensinando, ensinando, ao menos que nada saiba.

 

                = 29 =

 

(33...)

 

 

AS PRIMEIRAS ESCRITURAS

 

AS IDÉIAS

 

                E disse o Augusto:

                - O homem não é mortal, pois o que se transforma é apenas o corpo físico.

                Naqueles dias o Augusto pregava pelas cidades, e dizia suas palavra de esperança a todos, mas o povo não o ouvia e seguia em sua vida desregrada.

                E disse Augusto:

                - Todo aquele que viver para sua mente, viverá para sua Energia e viverá para sempre.

                Mas o povo, entregue a seus prazeres físicos, não o ouvia. Mesmo seus discípulos, que ouviam sua palavra, não seguiam todos os seus ensinamentos; ouviam Augusto, reveremciavam-se continuavam a viver com suas mulheres, seus bens físicos e seus prazeres carnais.

                E disse Augusto:

                - Aquele que vive para o mundo das coisas, perde o contato com o mundo da mente; e desperdiça sua Energia, e sofre os tormentos da perda e da frustração pela impossibilidade de ter as coisas.

                Mas o povo não ouvia , e vivia para o pecado e a dissipação. Os homens viviam para aprimorar as máquinas e aparelhos que serviam aos sentidos; e nenhum deles cuidava da sua mente, nem aperfeiçoava sua Energia.

                E disse o Augusto:

                - O Supremo me enviou e a todos vós que louvássemos e aprimorássemos sua Energia: eu vos trago a visão da verdade que há por trás de todas as verdades, do bem o do mal, do certo e do errado.

                Mas o povo não ouvia; e continuava a procurar o bem, e diziam sobre o certo e faziam o errado, e não sabiam, assim, nem o que era o bem ou o mal, nem o certo ou o errado.

                E disse Augusto:

 

 

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                = 14 =

 

 

( 20 ...)

 

 

                Na parede uma folinha amarela há muito tempo, indicava o dia 05 de setembro de 1998. A sala do apartamento estava quase vazia, havia velhas almofadas surradas espalhadas pelos cantos, uma mesa baixa, pilhas de livros espalhados por todos os cantos.

                O ruído ensurdecedor da cidade penetrava no aposento onde um pequeno grupo, sentado pelas almofadas, ouvia a voz arrastada do ancião:

                - Todo esse mundo nada mais é do que uma ilusão.

                - Sabemos disso, mestre Augusto, disse um dos discípulos, desejamos saber como se processa essa ilusão, Mestre.

                - Em primeiro lugar, desejo que não me chamem de mestre. Sou apenas um homem que pensou muito, pesquisou muito, viveu, errou e foi feliz. Chamei-os por que desejo fazer a síntese de tudo o que pude aprender nesses noventa e cinco anos de existência terrena. Vocês foram, há muitos anos, meus mais aplicados alunos, nos tempos em que eu possuía o grupo de pesquisas e lecionava metafísica no curso. Quero, pois ia me esqucendo - a memória de um velho não é uma coisa muito sólida - agradecer a vocês os riscos que correm por estar aqui. Todos aumentando dia-a-dia. Os expoentes da antiga religião redrobaram sua força junto ao governo e, se assim continuar, teremos uma nova inquisição. Por isso os chamei. Desejo transmitir a vocês o meu legado. Façam com ele o que quiserem. Guardem com vocês, escrevam-no em livros, contem a seus descendentes, ou não façam nada disso. O problema é de vocês. Eu farei apenas a minha parte.

                Os presentes entreolharam-se, alguém poderia notar naquelas pessoas uma mistura de medo e curiosidade, inclusive medo uns dos outros. Ninguém poderia afirmar que um deles não havia se tornado um policial ou coisa parecida, no decorrer de todos aqueles anos.

                               - Por isso desejo que me ouçam, continuou o velho. O que lhes vou dizer é o fruto de toda uma vida.

                - Estamos ouvindo, mestre, disse o aluno que se havia pronunciado antes.

                - Nosso universo é composto por substâncias que, subdivididas são átomos. Esses átomos são na verdade, pequenas partículas, umas agrupadas em um núcleo e outras girando em órbitas, em torno desse núcleo. Basicamente essas partículas são apenas energia. A matéria é formada de energia. Assim a matéria é essencialmente energia, apenas energia. A matéria é formada de energia. Estão entendendo bem?

                - Sim mestre.

                - Acontece que a energia é produzida apenas do deslocamento de um corpo qualquer por um certo espaço, durante um determinado tempo. A Energia necessita de matéria para existir, certo?

                - Então a energia que produz a matéria e a matéria produz a energia.

                - Exatamente. Mas estamos nos esquecendo de dois fatores importantes: o tempo e o espaço. Energia  e matéria só existem se considerarmos um certo espaço durante um certo tempo. E se esse espaço existem em função do tempo e se esse tempo existe em função do espaço, aparentemente ficamos num beco sem saída. Durante muito tempo o problema do espaço encontrava minhas deduções. Eu pensava em espaço em termos de espaço cósmico, e esse espaço era existente, independente de tempo. É que eu me esquecia que só se pode entender o espaço em se pensando em tempo. Eliminando o tempo, elimina-se, por extensão o espaço. Assim, tempo, matéria e energia, eliminan-se mutuamente.

               

                - Então nada existe, mestre?

                - Pelo contrário, meu filho: tudo existe exatamente porque as nossas medidas de tempo-espaço-matéria são meras ilusões desse nosso mundo material.

                - Veja bem: Esse nosso mundo material existe apenas em nossa consciência objetiva. Nos tomamos conhecimento dele através dos cinco sentidos: os cinco sentidos só podem agir em função de tempo-espaço. Por isso sabiamente, existe essa ilusão provocada pelas constantes ilusórias de espaço-tempo-matéria é necessária para que possamos estabelecer contato entre as nossas consciências e as ampliarmos. Não é que esse mundo material não exista, pelo contrário, Eterno e total, do que realmente fazemos parte. Esse mundo total é Deus, meus filhos.

                - E quando morremos?

                Na verdade nunca morremos, pois nunca nascemos, se você considerar como fato que o mundo físico é uma ilusão, evidentemente o nosso nascimento e a nossa morte estão incluídos na ilusão espaço-temporal, projeção apenas do Eterno. Quando morremos, acontece apenas a dissolução-temporal para uma “parcela” do Eterno, apenas isso. É exatamente por isso que não se deve viver ligado ao mundo material, pois seria viver para um nada, para uma ilusão, mesmo que esse Eterno que me refiro pareça o verdadeiro nada. Esse Eterno é o verdadeiro Tudo, ao qual pertencemos, meus filhos.

                - Então, quando morremos ao Eterno?

                - De alguma forma, sim.

                - Então o que é morrer? - insistiu o outro.

                - Simplificando as coisas, morrer é difundir outra vez no Eterno. Por isso morrer deve ser melhor do que viver. Por isso não se deve temer a morte, meus filhos. Todos vocês são o que as religiões chamam de Deus, vivendo no que vocês chamam de Mundo. Vocês jamais foram os pobres coitados indefesos e vulneráveis que sempre pensaram ser. Ao contrário, são os Reis de seus Universos Pessoais, com todos os poderes inerentes aos Reis e proprietários de Universos. Compete a vocês adquirir este magnífico Poder de modo a que o Deus criador que fez sua personalidade possa ser plenamente existente e feliz através de cada um de vocês.

                Dessa forma, meus filhos, ser feliz não é apenas um direito seu, mas, ao contrário é obrigação e dever de cada um de vocês. Se um de vocês se tornar um miserável, não será, como muitos dizem, digno de pena, mas um criminoso perante Deus, porque faz com que sua canalhice, a janela que você é, de Deus, viva na miséria. Os miseráveis cometem o crime de obrigarem o Deus que há dentro deles viverem na miséria, quando sua obrigação era serem felizes.

                Não digam que devam procurar o prazer, pelo simples prazer, o que seria outra estupidez. Felicidade e prazer jamais são sinônimos. Felicidade é assumir o poder de seu mundo, saber-se dono do sol, da lagarta na folha e a própria folha e o próprio orvalho. É cantar diariamente a magnífica canção da vida e usufruí-la completamente, em cada flor, em cada crença em cada homem-e-mulher-você-mesmo que lhe passa pela frente. Sua obrigação é fazer Deus ser pleno e feliz, através de sua personalidade.

                - Eu sou um dos mais novos de seus discípulos, mestre. Por isso posso perguntar, onde é que o senhor aprendeu isso? aliás, eu sempre tive vontade de perguntar. O senhor é um avatar, um iniciado? Explique-me por favor.

                O velho ficou quieto.

                Pensou em todos os seus anos de pesquisas.

                Nunca havia, de verdade, controlado sua personalidade.

                Sabia que havia alguma coisa, além do que dissera, mas não sabia o que.

                Tinha certeza que seria pego pelas autoridades. Se tivesse a metade do poder que se pensava que ele possuia, calmamente livrar-se-ia dos inimigos.

                Mas ele não tinha poder algum. Era apenas um teórico, aprendera nos livros, e tirara conclusões.

                Nunca tivera um insight, nunca conhecera de perto a face de Deus mas intuia que ele existia. E respondeu aos seus:

                - Eu pesquisei. Na verdade nunca tive contato algum com o interior como esperava. O que sei é pura lógica e ciência, mas tenho, reconheço pouco coração e nenhum poder.

                A gente nunca deixa de ser quem a gente é, se somos o que somos, eu sou o que sou.

                - E como posso resolver meu problema mestre? Perguntou de novo, o aluno.

                - Eu não sei, só sei que não sei, mas que pode ser feito.

                E o velho calou-se.

 

                Um silêncio pesado invadiu a sala. Todos estavam imóveis. O velho mantinha-se silencioso também. Um dos integrantes levantou-se silenciosamente e saiu. Os outros cabisbaixos, foram um à um saindo, até que o velho ficou sozinho no canto da sala semi-vazia. Se alguém olhasse seu rosto, veria um pequeno sorriso e seus olhos fechados.

                No dia seguinte, uma patrulha penetrou o apartamento e encontrou o velho ainda na mesma posição, como se estivesse dormindo. Nada disse ao ser levado ou ouvir a voz de prisão:

 

                               - Cidadão Augusto, considere-se preso, pela acusação de subverter a ordem religiosa da república e corromper a juventude, de acordo com a ordem expedida pelo excelentíssimo Sr. Juiz de Direito Bruno Giordo, da primeira vara de direito religioso.

                O velho retirou-se, silencioso, o pequeno sorriso ainda no canto dos lábios. E o sorriso ia acompanhá-lo até o fim, juntamente com o silêncio.

                Depois, foi só dor e dor, até o fim, obscuro e esquecido.

 

 

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                               = 14 =

 

                ( 22 .....)

 

                As primeiras notícias da comunicação pela reação em cadeia e queima de oxigênio já se espalhavam quando o Oficial da Patrulha Taulo encontrou sem querer, o processo de condenação de um homem idoso, conhecido apenas como “Augusto”, acusado de crimes de sublevação e contaminação da juventude da República. Acontecera quase sem querer. Estivera trabalhando na microfilmagem do arquivo e dera com os olhos naquele maço de papéis que deveriam ter sido microfilmados há muito tempo, não sabia porque não haviam sido trabalhados, talvez alguma falha de algum funcionário menor, impossível saber.

                Alguma coisa o atraíra naquela história. Um velho executado por sublevação da juventude. Um velho de noventa e tantos anos, que não tivera nenhum defensor além do caricato advogado determinado pelo juiz. Um velho que não tivera nenhum conhecido, nem mesmo uma assistência para seu julgamento: o tribunal estivera vazio durante todo o tempo, constava nos autos que o juiz mandara fechar a porta da corte, sentinela, ali sem propósito, já que a ninguém interessara o rápido e insignificante julgamento.

                Uma história muito triste. Mesmo que fosse realmente um criminoso, um inimigo da república, era digno de pena. Morrer, velho, só, abandonado, condenado pela justiça. O erro de uma vida...

                Pela primeira vez desde que ocupara o cargo de chefe do arquivo, procedera pessoalmente a microfilmagem de um documento e mais ainda, lera quase todo o processo, aliás muito curto, rápido como um simples crime de roubo mesquinho, sem interpelações, réplicas ou discussões a leitura da acusação, uma débil defesa e a sentença condenatória. Apenas isso.

                Taulo pensara dias naquilo. Quem seria aquele velho, morto ha mais de vinte anos, esquecido do mundo? Quais seriam as idéias pelas quais morrera?

                Uma noite, depois de adormecer pensando nisso tudo. Taulo teve um estranho sonho: a figura de um velho com indefinível sorriso pequeno, de olhos sempre fechados, contava-lhe uma estranha história de um mundo novo e sem sofrimentos, onde a morte era um premio e a vida uma simples passagem. Taulo acordou confuso, sem entender direito a peça que lhe pregara sua mente, durante o sono.

                Uma semana depois, foi incumbido de  de refilmar uma parte parte do arquivo pertencente a Biblioteca Nacional. Era um tipo de trabalho que até gostava: sair da rotina de microfilmar processos judiciais, ir para outro ambiente. De vez enquanto sua seção colaborava assim com  outros organismos oficiais. E taulo recebera o material, muito vasto, por sinal, referente a coleção de jornais antigos, de dez ou mais anos, durante o período das correções religiosas. Era necessário entregar ao computador a reverificação dos microfilmes, e a máquina indicaria os que deveriam ser remontados. De vez enquando aparecia na tela um página de jornal qualquer, que necessitava de refilmagem. Dava, então, uma ordem ao continuo que trazia o original hiperfilmado, ampliava-o, procedia a refilmagem.

 

                - Subito, uma coluna , num canto de um jornal, chamou-lhe a atenção. Tinha como título “As idéias do Mestre Augusto”, um artigo de crítica mordaz exatamente a respeito do velho que fora condenado, no processo que lera, anteriormente. Achou curioso. Lembrou-se do sonho contrariamente a seus hábitos profissionais, fizera ampliar no aparelho a página do jornal, destacando o artigo e leu:

                “Talvez ainda exista algum débil mental que tenha ouvido as idéias de “mestre Augusto”, um pobre velho senil, que espalhou um amontoado de tolices a respeito de nosso mundo. Dizia o pobre idiota...”

 

 

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                                                               ( 33 ....)

 

 

                Jeutfepu decobriu, nos escritos antigos, não do Augusto, que ele percebera não ser de grande valia, mas de um outro homem, que se dizia Avatar, a Verdade que procurava.

                Descobriu que era uma personalidade, criada por um Deus Interior, um ser unitário, da dimensão acima da terceira onde vivia. Descobriu que o destino de todo ser humano era tornar-se o Senhor de si mesmo, ao unificar-se e tornar-se ele mesmo o Eu Profundo Individual ( esses termos ele encontrou nos livros do Avatar) de modo a tornar-se depois o Eu Profundo Coletivo, Deus vivo sobre a terra.

                E sumiu o poder.

                Controlou seu corpo, sua mente.

                Aprender a sentir.

                Não, sentir a partir de um estado afetivo vindo de fora(a emoção) mas a partir da vontade de sentir profundamente a realidade criada para que ele, sendo Deus vivo aproveitar.

                Porque ele, Jeutfepu, não era mais Jeutfepu, era Ram-lá. Era Giordano Bruno, era Da Vinci, mas acima de tudo ERA DEUS VIVENDO NO MUNDO OBJETIVO ATRAVÉS DELE!

                Ele descobrira a Gloria de Deus, e o motivo da sua vida!

                Ele descobrira porque havia nascido.

                E nada disso tinha a ver com o que todos os que ele conhecia, sabiam.

                E decidiu ensinar o que aprendera.

                Teria de defender uma tese, a tese que o doutoraria.

                Para isso fora pesquisar.

                E, pesquisando, tivera um insight. Estivera “lá”.

                Mergulhara em si mesmo, soubera-se todos os seres(ele ERA o SUT) depois ultrapassara mesmo o único ser, e se torna Coisa Alguma e se lembrara de como se chamara, antes, como lera nos livros da velha vida, de NIHIL.

                SOUBERA.

                Sabia que não era um Avatar, mas que se tornara um iniciado. Que se unificara, que era o dono do mundo.

                Não tinha mais medo.

                Mesmo na fogueira, saberia como ser imune. Era o dono de si e de seu Universo Paralelo: nada no fora o atingiria, alcançara um poder além da imaginação. Ele era dono do Seu Reino!

                E ninguém o perceberia: só ele!

                Estava só

                Completamente só.

                E ISSO ERA MARAVILHOSO!

                Isso o que interessava.

 

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                Estou velho, e, nesta prisão, sofro muito.

                Apenas eu, entre muitos, sei porque sofro. Eu fiz isso!

                Não que um Deus me castigue pessoalmente, mas que atingi mecanismos tais que me colocaram nesta posição! Se eu fosse dono de mim mesmo, uma espécie de mago, em primeiro lugar não teria chegado a este estado. Mas isso não impede que eu seja atingido - e sofra.

                Em segundo lugar, que se deixasse ficar assim, não me deixaria nada me atingir.

                Mas não tenho esse poder , a não ser em teoria. E não tive nunca a coragem para por em prática, é isso: coragem. Fui sempre um covarde, e os covardes pagam por sua covardia, eu sei!

                Aliás, se os policiais e as “autoridades” não me prendessem, para não matarem(como o farão, eu sei!) eu morreria de qualquer jeito. Estou no fim. Apesar de ter cuidado fisicamente de meu corpo, não cuidei de meu Universo Paralelo, como deveria e tenho uma doença degenerativa rara que me destrói aos poucos em dores enormes. Os médicos já desistiram de diminuir minha dor. E eu a sinto, sempre.

                Isso sem falar na dor moral.

                Estou só, e sinto muito essa solidão. Se eu fosse um iniciado seria auto-suficiente. Sei isso teoricamente, mas não o sou e não sei como fazer isso.

                A dor me invade e me domina. Sofre, sofrer. Só.

                Os militares têm torturado. Unhas, pele, um horror. Ler sobre isso; e uma coisa, viver é outra. Cada seção é um martório, mas não posso fazer nada. Como sou muito resistente, custo a desmaiar e por isso sofro mais que os outros prisioneiros mais fracos, que desmaiam - ou morrem, mais rápido. Fiz muita ginástica, e meu corpo de fora, mesmo velho e doente resiste muito e eu sofro mais!

                Escrevo este desabafo nuns velhos papéis que encontrei debaixo do colchão sebendo da cela - vou passá-los a um outro preso que vai ser libertado por ter confessado. É muito difícil escrever, com as minhas mãos dilaceradas.

                Vou acabar e entregar ao meu novo amigo. Pode se que ele dê um fim ou um principio a estes escritos.

 

 

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                Jeutfepu sente o calor envolvê-lo.

                Antes mesmo de sentir o fogo queimar-lhe a pele, como aprendera, faz parar o tempo.

                À sua frente, tudo pára, como num filme, que se lhe interrompe a passagem. Tudo fica estático.

                A própria chama, não mais é uma coisa móvel, bruxoleante, mas uma flâmula seca e congelada.

                Jeutfepu, então, ampla sua consciência, como também aprendera.

                Não mais está amarrado, mas é uma mente livre, solta, tem seu centro formador, condicional, instintivo, racional, e sentimental, mas é mesmo o EPI, o senhor de si mesmo e se vê de fora, quando que esteja dentro.

                e se sente o parameshdent, o amigo, os outros todos, que lá estão.

                ... o tempo parado, ele vive a eternidade. Nunca mais voltará ao tempo. Ficará para sempre, na bem-aventurança, que já mesmo sentira, anda na cela. Perfeito, pleno, ETERNO. Como premio de sua virtude, saira da trindade tempo-espaço-matéria. Era Deus.

 

 

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                                                                                                              (5525)

 

                                                                                                                                             NOTA

 

 

                Sou um arqueólogo, não um escritor. Por isso, desde já, peço desculpas pelos possíveis vícios de linguagem que apareceram neste livro. Principalmente porque a tradução para o idioma moderno foi muito difícil. Todo o texto estava gravado em centenas de chapas finíssimas que, não obstantes de aparência metálica foram se desfazendo ao contato com o ar exterior ao aposento descoberto na escavação, aliás o único praticamente intacto em todo o achado.

 

                Tivemos, então, que copiar os caracteres à toda pressa, ainda subterrâneo, valendo-se do oxigênio artificial que respirávamos através de aparelho de mergulho.

                Desse modo, as provas que possuimos além dos aposentos escavados ************************** testemunhais. Mesmo que não se duvide da veracidade deste achado, parece que ainda não é uma prova definitiva a respeito das teorias levantadas sobre a existência, de uma civilização altamente desenvolvida há milênios antes da nossa era.

                Os escritos encontrados podem muito bem ser apenas ficção, originária de uma civilização primitiva desconhecida, sendo a desintegração das chapas metálicas um processo físico-químico ainda não estudo.

                De qualquer forma apresentamos os escritos encontrados, sem maiores alterações nos textos que a tradução o mais aproximada possível de expressões idiomáticas menos comuns em nossa lingua, como estavam impressas nas placas encontradas.

 

 

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UM TEMPO QUALQUER

NUM HOJE QUALQUER

 

                São quatro horas da manhã.

                Desligo o monitor do computador.

                Estico os braços num espreguiçamento de preguiçoso assumido.

                Vou a janela do quarto, e, da passagem vejo em seu sono justo a maior vez, uma garotinha alta e magra, linda, de cabelos encaracolados no arremedo da cidade que era Nunki. Hoje a maior escritora que seu tempo jamais viu. E a outra parte de um avatar.

                (porque os humanos fazem sexo, que é apenas a animalesca e maquinal realização puramente física, como cães e cadelas, vacas e touros. Mas um avatar faz amor, que é a realização interior realizada atravéz do exterior - o pequeno insight da verdadedeira androginia - e os dois não mais têm nem sexo, mas apenas são polaridades unidas numa unidade - Deus vivomas tudo no mundo analógico, dentro de suas normas materiais e objetivas: pleno, perfeito, puro. Maravilhoso! Os mortais carnais jamais saberão o que é isso!)

                Você sabe o que é um avatar?

                No mundo dos computadores, um avatar é um personagem virtual, com corpo e tudo,  que representa o idiota que tecla no Keyboard, em geral para brincar de coisa alguma e gastar energia elétrica e conspurcar o invento maravilhoso que a maioria de imbecis humanóides usa para gádio de suas próprias personalidades. Eles, pobre infelizes, terão sua paga, pois que o mecanismo universo é impiedoso. Como não há um Deus humanóide corrupto e corruptor que perdoasse as canalhices de suas criações(esse deus só existe na mente dos religiosos e dos sacerdotes) desde que um idiota materializado, identificado, passa a viver para sua própria personalidade, desencadeia mecanismos inerentes à sua própria programação que, primeiro a destroem e essa destruição jamais poderá ser “piedosa”, porque isso seria contrário a própria estrutura.

                Mas existe avatar no mundo de verdade.

                O único ser da quarta dimensão, cria as personagens para representá-lo no mundo objetivo  e para que Ele, através delas, possa sentir-se vivo - e a vida realmente pode existir fazendo Nihil, Deus, Ainsoph,, Tai-chi existir realmente.

                Em geral ele tem de deixar suas personalidade retornarem por si mesmas. Essa a noção básica de RELIGIÃO. Religião é a necessidade que um ser criado pelo SUT tem, consciente ou inconscientemente, de RELIGAR-se ao próprio SUT, mesmo sentir-se e saber-se Nihil, vivendo, para que assim, Nihil tenha consciência plena e exista mesmo!

                Compete a cada diversificação do SUT, voltar por si mesmo, à fonte, para viver para ela, que é o objetivo pela qual foi criada. Isso nada tem a ver com igrejas, que são sinonimicamente CONGREGAÇÕES, quer dizer associações ou finalmente, coletivos, que só podem existir no mundo analógico objetivo material. Dificilmente uma igreja possa ajudar a alguma personalidade religar-se ou não seria uma igreja, sacerdotal, corporativa, etc.

                Se lhe interessa, eu sou um Avatar. SEI que deus colocou-me nno mundo para ensinar a você e a todas as outras personalidade loucas, apaixonadas por si mesmas, que elas devem deixar de lado essa paixão jamais resolvida e passarem a viver suas realidades, que é a de servirde riupa objetiva para Nihil.

                Como elas se adoram(quem você conhece que não ame seu nome, seu corpo, suas lembranças? Quem você conhece que  tem coragem de abrir mão disso? Se conhecesse, esse é um candidato a iniciado...)Como elas amam a si mesmas antes de tudo, o preço que tem que pagar para alcançar a Verdade é muito, muito caro. Por isso transformar-se em Augustus, Saulos e, no máximo chegam a Mareshdent. Ser Jeutfepu nem pensar! Para elas isso é ficicílimo - mas não entendem que isso é muito simples e que dá a elas o verdadeiro, único poder que é o de anular-se a si mesma, em prol, do Deus dentro delas.

               

                Este discurso pode alcançar você em qualquer tempo, porque o tempo não existe. Só existe esse seu agora.

                A história do mundo não existe, porque o tempo não existe.

                A geografia que você estudou não existe. Tudo o que existe para você so existe em sua presença,fora de sua presença é apenas campo, nunca substância. A Geografia não é geo, mas uno. Esografia.

                Toda históriaque você conhece, só uma lenda, assim como a história deste discurso, como sua propria história, como ser humano, tudo fantasia: sua infância, seu passado: mentira. Acredita se quiser.

                Qualquer coisa em seu mundo não pode atingir você.

                Porque tudo em seu mun é apenas lenda. Criação.

                Fantasia.

                Criação.

                Romance.

                Ou tragédia.

                Como esse discurso, é neutro, porque exterior a você.

                Só alcançará você se você merecer, se tiver interesse, se deixar.

                Se não merecer, não o lerá, ou se o ler, não o entenderá ou achará muito divertido, e irá para o inferno, com sua quota de dor e morte terrível, problema seu, nada posso fazer por você. Encontre seu lugar nessa história e viva-o, é seu destino cruel.

 

                                               .............................................................

 

                Lá fora a cidade dorme,

                As luzes das casas dormem junto com seus donos, como dorme o mundo. Mal sabem que dormem também durante o dia - por certo seu sono do dia é mais profundo ainda que o da noite, quando ao menos inconscientes , sempre(e por isso dormem) encontram o Deus dentro delas e como se reabastecem de vida.... Mas voltam a loucura quando acordam...!

                (Por isso todo imbecil adora dormir(e comer, e copular[como bicho] e embriagar-se com drogas, álcool,, amido, farras, amizades, social, coletivos) porque não tem coragem de encontrar Deus acordados!)

                De vez em quanto muito raramente, passa um vagabundo voltando da orgia ou desce em direção a condução, um sodômico trabalhador autômato - quem sabe um obyatel infeliz.

                Aprecio a obra de Deus e minha obra.

                Linda! As noites são magníficas - ainda que o dia não seja diferente. As árvores engrandecidas mais ainda que visivelmente verdes, esculturas gigantestas, guardiões do tempo e da vida. As estrelas, mundos desertos distantes, tudo é uma sinfonia que existe para que eu viva plenamente - e, para você também, que não o percebe.

                Porque a diferença entre eu, avatar, e você, gentio é que eu sei que sou Deus vivendo e você ou nunca saberá ou terá que aprender através de mim, de um iniciado, um mestre qualquer.

                O mais provável é que você acabe sendo um adorador de um augusto, de um buda, de um cristo, de um mitra, ou grande Deusa, ogum, exu, o diabo... literalmente.

                Mas pode ser que nem isso consiga e seja um morto vivo como o poeta do cão sem plunms, comunista convicto, que passou quase um século destilando seu veneno sobre muitas juventudes, sendo responsável por disseminar dor e atraso ao morrer, apavorado, covarde, como toda personalidade materialista resolve - sem converter-se! - morrer rezando a “nossa senhora”... Sua vida foi um inferno e sua morte uma tragédiaa, e depois desapareceu no nada, um nada que nunca deixou de ser.

                Senti fome e peguei um pedaço de queijo na geladeira.

                Queijo está vivo, é bom transformá-lo em energia para qye meu corpo analógico objetivo continue pelo ciclo afora dessa personalidade adaptada que Eu, Deus, Krisna, Mitra, Kut-Hu-Mi ou outros nomes simbólicos do centro principal da personalidade, o filho. Hoje, nesta idade do SUT, o pedir ao pai(e pais às vezes decidem não permitir algumas coisas aos filhos!)mas ele mesmo ser o próprio pai, o que, inclusive, pode ser dado mesmo aos avatares)

                Pena que eu nada mais possa fazer que isso, através de meu avatar, paradoxalmente do avatar que sou, tentar sacudir aos loucos adoradores das sombras da parede, ao Um-b-b-ak que não quer sair de sua ilha, ao prisioneiro acomodado que não quer fugir do presídio.

                A maioria nem me ouve - e mergulha na miséria, na loucura.

                Pobres idiiotas criminosos - nada os perdoará.

                (muito menos a você, leitor tolo que me lê como um romance - porque este nunca foi ficção, romance, é a sua história em pedacinhos...)

                Estou vivo, pleno. Absorvo a vida que flui ao meu redor e aproveito-a, em sua poesia divina. Minha poesia, poesia de Deus.

                Enquanto penso e vivo, o mundo continua em sua loucura.

                No momento atemporal desse trabalho, não sei se haverá um novo momento atemporal desse trabalho, não sei se haverá um novo momento em que você possa me ler. Talvez não haja, talvez não dê tempo.

                Pode ser que eu não consiga fazer meu trabalho.

                (Se você está lendo este trecho mais de cem anos depois da escrita analógica dele, eu consegui. “Se eu não conseguir, já não haverá você para ler este livro...)

                Ah, se você é meu contemporâneo, pare tudo o que está fazendo e venha procurar-me que eu lhe indicarei o que deve fazer para salva a si mesmo e ao seu mundo.(Aliás, VOCÊ JÁ DEVERIA ESTAR TRABALHANDO HÁ MUITO TEMPO PARA ISSO, ou é um imbecil completo)

                Queijo delicioso. Obrigado, amiga vaca. Sei que você não sobreviverá à loucura total, se tudo acabar. Mas, mesmo assim, obrigado, porque o Deus em você conseguiu fazer o leite e uns humanos sodômicos fizeram esse queijo que eu como. Ave queijus!

                Haverá queijo daqui há cem anos? Vinte? Haverá vacas?

                Eu sei que, se houver, estarei aqui.

                Ela estará, também, como esteve em UR, no mar Morto, em Roma, em Vinci, na França.

                Nem que seja como um golfinho, um rato ou uma barata, os maiores candidatos a herdeiros da vida inteligente - só que será diferente DESSA CONSCIÊNCIA.

 

                Sua orgulhosa espécie destruidora, leitor desavisado tem, como homo-sapiens-sapiens-moderno, no máximo 10 míseros mil anos. Nem dá para comparar - o mais provável é que sua espécie se auto-extermine rapidamente, como- aliás já começou a acontecer.

                É só olhar ao seu redor.

                O crime oficializa-se.

                O homem comum, pagador de impostos, começa a ser rato.

                A economia subterrânea torna-se maior que a oficial e matará o estado, a anarquia - porque ninguém apresentou(além de mim) uma alternativa.

                A uventude nos tempos de Sócrates, já se dizia corrompida, mas, hoje, temos comum meninas grávidas aos nove anos - nem os selvículas fazem isso! e meninos prostituídos aos7 anos. A midia, através de apresentadoras semi-nuas, incentiva isso, junto aos filmes e músicas depravadas. Você conhece algum aluno que não cole? Não existe. Todos os alunos institucionalmente são corruptos.

                Políticos são desonestos, policiais além de não prenderemcometem os mesmos crimes que deveriam reprimir, médicos matam, drogam-se, professores não ensinam, advogados enganam clientes, sacerdotes tiram dinheiro dos fiéis, profissionais autônomos de consertos ao invés de consertarem os aparelhos que lhes são entregues enganam os clientes, ônibus não param nos pontos, bandidos são tratados como cidadãos, mesmo nos presídios - e tem direito de revolta e de fuga...

                Os oceanos ESTÃO sendo transformadsos em pocilgas fedorentas.

                A agua potável está acabando e é impossível usar a agua do mar economicamente.

                Os oceanos estão subindo, porque os polos estão derretendo, porque a temperatura da terra está aumentando, entre outras coisas, por causa da poluição. As cidades costeiras desaparecerão, o regime de chuvas mudará, a agricultura será afetada, os desertos aumentarão, a fome grassará.

                A camada de ozônio está cada vez mais rarefeita. Ha 30 anos, um negro poderia ficar no sol indefinidamente que não queimava, um branco poderia ficar algum tempo sem muito risco. Hoje, início de 2000, um branco fica apenas 13 minutos ao sol antes de queimar-se e começar a aparecer cancêr de pele - e o melanoma é mortal! mesmo negros, queimam  a partir de 3 horas ao sol. Como milhares de pessoas estão quarando alegremente ao sol, milhares morrerão de cancer de pele. E a camáda de ozônio rarefece a cada dia, esses índices piorarão muito, e a tragédia será maior. Não se ouve uma palavra a respeito, na mídia.

                A economia mundial, por causa de globalização ou por causa de estúpida socialização silenciosa, começa a morrer.

                El Ninho, La Ninha, La Mana, provocaram catástrofes.

                Pelos motivos acima, provavelmente aumentarão furacões, terremotos( O Japão e a Califórnio podem desaparecer a qualquer momento!)

 

                Luzes da manhã começaram a surgir.

                Mais um dia.

                As diversificações do SUT começarãoa a mergulhar em seus sonhos semi-acordados, vivendo suas falsas vidas e seus falsos sonhos destruindo o mundo ao seu redor, a si mesmos, a seus ëntes queridos”...

                Cada vez mais afastados de Deus, e desconhecedores de si mesmos, da vida, da realidade, pobres demônios infelizes, imersos em suas misérias mesquinhas por pura covardia, a covardia imperdoável de lutar contra si mesmo, de ser vencido por sua preguiça, sua acomodação e sua cegueira.

                Todos pagarão caro por essa insânia.... mas quem sai perdendo mesmo é Deus!

                O ser humano, é mais alta realização de Deus, mas ele foi criado para que Deus pudesse ser consciente e pleno dentro dele. Entretanto os seres humanos criaram muitas igrejas, fantasias sobre falsos deuses, sobre avatares fracos e sofredores que morrem por loucura dos outros e pela escravidão dos seres. Pobres infelizes!

                Mas o ser humano, com sua liberdade de ser imbecil, está destruindo a criação. Essa destruição pode levar mesmo ao fim da própria existência mesmo do universo, e ao fim de tudo, literalmente(Não haveria ruinas para se encontrar resquícios de antigas civilizações...)

 

                Nesse dia, a criação estará terminada.

                O projeto será abortado!

                Porque não haverá motivo algum mais para que existam outros animais, vegetais, planetas, nebulosas, galáxias, nada terá sentido mais, e tudo desaparecerá!

                O projeto estará abortado deinitivamente.

                Não haverá outro novo ciclo.

                O dia de Brama terminará no meio.

                E, terminado o ciclo no meio não será possível recomeçar outro dia de Brama outro ciclo E TODA EXISTÊNCIA TERÁ TERMINADO!

 

                Culpa exclusivamente sua, leitor vagabundo.

                “religioso”,

                 “cientista”,

                  “político”

                   “materialista”

                    “agnóstico”

                     “ser humano comum”

                        Qualquer um não iniciado.

                           ou seja, você que me lê!

 

                Porque a sua missão era, a de fazer Deus viver na terra. Transformando a matéria bruta em matéria sutil, para criar o projeto do futuro corpo do SUT, fazendo com que o ser tetradimensional possa ser real, objetivo, sem as personalidades tridimensionais, tão complicadas e fugidias, rebeldes e danosas ao projeto.

                Isso pode acontecer agora!

                Por sua causa!

 

                O sol está nascendo, no horizonte, como a cinco bilhões de anos.

                Os homens nunca olham o nascer do sol. Mesmo quando saem para o trabalho, pela manhãzinha.

                A glória luminosa e energética do grande astro espalha-se pela natureza que recebera ao nascer do dia.

                Vejo as primeiras aves barulhentas, que entre as árvores: elas sempre vem conversar comigo algumas pousam no beiral da janela(quando eu dormia em outro quarto, de fundos, um grupo delas acordav-me, todas as manhãs chilreando...!)

                Sim, sou um ser humano, um homem vivo, normal, comum, como todos os outros amo, como, durmo. E nem por isso deixo de ser um avatar ou O Avatar.

                EU SOU UM AVATAR, NÃO SOU UM SUPER HOMEM, NÃO VÔO NEM FAÇO COISAS SOBRENATURAIS.

                Não existem coisas sobrenaturais, a Lei é inflexível. Só a uso!

                Não altero as leis naturais.

                Não é preciso, tudo que eu faço é natural.

                Qualquer um poderia fazer as coisas mais incríveis, só com a Lei.

                Eu crio cenas constituintes  de meu mundo, como se fosse cenas de um filme de 24 quadros por minuto e posso mudar a cena seguinte - sem mágica, sem vôos, sem mandrakes...

                Tudo o que for preciso eu faço: mas só o que for preciso. O que não for preciso mas minha personalidade desejar, tem de ser realizado com trabalho e esforço, mas também é possível.

                Vivo com uma personalidade num corpo físico aparente, mas não sou afeito as tragédias dos outros seres.

                Só não posso mudar as personalidades idiotas que vivem no mundo de meu Deus - que sou Eu, porque isso seria um jogo de cartas marcadas: eles não seriam eu vivo mas autômatos sem sentido. Cada ser humano tem de decidir individualmente. como personalidade, seu próprio retorno, e não pode ser ajudado nisso por ser alguém de seu exterior e muito menos pelo Deus interior.

                Eu tenho como missão ensinar às personalidades que elas existem para viverem o Deus dentro delas, para fazer o Deus dentro delas pleno e forte, através delas consciente ( e para isso Elas tem de aprender a serem conscientes!), nada mais pode ser feito.

                Nasci para isso, ensinar a você que você é Deus vivendo.

                Minha vida não tem sentido se eu não o fizer.

                Se elas não aprenderem, seu mundo morre. Será uma pena, porque o mundo é um poema maravilhoso!

                Pena que os seres humanos, porque identificados, não conseguem viver plenamente a maravilhosa vida que eu vivo e por isso tem que se embriagarem ou viver a vida comendo, tagarelando, em estádios, sambódramos, bailes, igrejas cantantes e dançantes, amigos, patotinhas, famílias, etc. Tudo isso embriaga e mata em vida, é o inferno doce, o terror suave, que só se nota quando se pára, à noite sozinho, com seus pensamentos. Por isso a angústia, a depressão, as crises nervosas, o medo, a dor. Dor de ser um objetivo, só isso.

                Perfeitamente curável. Só me encontrar. Em você.

                Eu vivi a vida de mim como Deus vivo que sou, mas a verdade é que você também é e não sabe disso!

                Pena...

 

personalidades, no que chamam de “caridade”, principalmente as “religiões mediúnicas” - mas isso é impossível: a dor sempre volta, como todos sabem! sua personalidade não tem solução por si mesma, ela não foi feita para isso, para viver para si mesma, mas foi feita para viver para o Deus dentro delas, e nada mais. Tentar burlar isso remete a uma vida miserável, dolorida, destrutiva( você destruirá seu filho, seu cônjuge, seus descendentes, todos ao seu redor!) leva à uma morte dolorosa, terrível, como acontece com todos ao seu redor não?(inclusive com sacerdotes, cientistas...)

                Não adianta você ler isso e dizer: “É mas...”. Acontecerá como eu descrevo e não há alternativas, ainda que as opniões que você encontrará serão as mais diversas e contraditórias. Mas os opinadores estarão sofrendo, como facilmente verificará. E estarão morrendo, em dor, como você verá. (Ninguém precisa morrer em dor e muito menos viver em dor!) E viverão vidas inúteis, e ensinarão isso a seus filhos, seus descendentes, seu próximo. Escreverão livros inúteis ou mortais e transmitirão sua estupidez a gerações posteriores. Seu castigo será terrível não dado por um Deus numa nuvem, mas por eles mesmos, por seus mecanismos interiores implacáveis.

                Realmente você pode não me levar a sério, sua tradição familiar, religiosa, ideológica, será diferente.

                Só que essas afirmativas são corroboradas pela física quântica, pela verdadeira história(a paradoxal!) e pela pratica da verdade.

                Você ama a pessoa que responde por seu nome? Ama suas lembranças? Ama seu corpo? Pobre coitado: o inferno é o seu destino, em vida e em morte.

                Pobre idiota: mata Deus em você.

 

 

                Agora há mais movimento. Muitos ônibus - os Obyatéis, os que trabalham( a maioria silenciosa que controla o mundo, e o faz mover-se, todos identificados, mas, ao menos, máquinas produtivas, também morrerão, mas tem o prêmio de, por produzirem eventualmente uma morte rápida e indolor, mas desaparecem como todos... E como todos, sofrem muito!

                É me pergunto sobre você, olhando os raios dourados, avermelhados do Rei do Céu, o Eu do Sistema Solar, a nota Sol da no Mi na escala descendente sideral. Será um identificado maluco? Um simples leitor vagabundo, um assaltante da vida?

                Não sei.

                            Você sabe.

                                  E POR ISSO É RESPONSÁVEL POR FAZER PLENO O DEUS DENTRO DE VOCÊ!

 

 

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                Caro editor:

 

                O manuscrito termina aqui. As páginas aqui foram queimadas no incêndio da casa. Não encontrei vestígios do homem que morava lá. Dizem que ele tinha poderes especiais. Não sei.

                Meu chefe, o chefe dos bombeiros, deixou que eu levasse o manuscrito e perguntando se eu poderia editá-lo, ele disse que era problema meu. Claro que estou dizendo para o senhor publicá-lo em meu nome, de modo que os leitores acreditem que fui eu quem escreveu esta hisória.

                Até mesmo o senhor acha que foi eu quem escreveu isso, não?

                Espero que a comissão combinada entre nós seja mantida.

                               do amigo.

 

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                Bangu, 1965,

                              

                       Senador Camará, 1978,

 

                               Sepetiba, 1979,

 

                                        Santa Cruz, 1987,

 

                                               Sepetiba, 1997

 

                                                               Santa Cruz, 1999

 

                                                                              Santa Cruz, 2000

 

 

               

 

                e....

 

 

                                                                                           S E M P R E !....

 

 

 

ALMAR GALVÃO GOMES DE MATOS

 

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Almar

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ALMAR GALVÃO GOMES DE MATOS